Organizações ambientalistas portuguesas dividem-se entre o ceticismo e o pessimismo quanto a bons resultados na conferência da ONU sobre o clima, COP30, que começa na segunda-feira no Brasil, mas negam que haja desinteresse crescente sobre o tema.
A COP30, que reúne quase todos os países do mundo em Belém, no Brasil, de 10 a 21 de novembro, vai debater e tomar medidas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa (GEE), medidas para os países se adaptarem às alterações climáticas, e o financiamento dessas medidas.
No entanto, após 30 reuniões da ONU sobre o clima, os países continuam a falhar nas políticas climáticas, porque as emissões de GEE têm batido recordes todos os anos, as temperaturas atingem valores recordes também, e aumentam os fenómenos climáticos extremos, a desflorestação e a perda de biodiversidade.
Ainda assim, Bianca Mattos, coordenadora de políticas da WWF Portugal, diz que sobre bons resultados há sinais positivos, como a mobilização da presidência brasileira.
“Bons resultados dependem da vontade política e de superar bloqueios que travaram avanços em COP anteriores. Esperamos que os países reconheçam a urgência que a crise climática nos impõe e não se eximam de tomar decisões alinhadas a esta urgência”, diz à Lusa.
Francisco Ferreira, presidente da associação Zero, admite que espera sempre avanços, mas confessa a falta de otimismo quanto a resultados tão relevantes quanto necessários.
Nas COP, a distância entre prometer e executar tem sido o maior problema, diz, acrescentando que o critério até é simples: mais ação e implementação efetiva.
Cética também, a presidente da associação Quercus, Alexandra Azevedo, aponta que os governos não têm assumido compromissos políticos suficientemente consistentes.
E Américo Abreu Ferreira, presidente da associação Geota, é também muito claro: “Há razões para algum otimismo simbólico, pela escolha da Amazónia e pela retórica de justiça climática, mas as tendências recentes não inspiram grande confiança”.
Recordando que as emissões globais de GEE atingiram em 2024 novos recordes, apontando que várias potências económicas continuam a aposta em petróleo e gás, o responsável admite que mesmo que surjam “compromissos grandiosos” o mais provável é que “fiquem no papel”.
Pelo que, conclui, a COP30 corre o risco de ser mais um momento mediático de boas intenções e não “uma viragem efetiva no combate à crise climática”.
Mas será a falta de resultados nas COP um reflexo de um desinteresse das pessoas pelo tema? Américo Abreu Ferreira diz que não, mas admite que haja “exaustão”.
“As pessoas sentem que há muita conversa e pouca mudança, enquanto as prioridades quotidianas - habitação, saúde, rendimento - se impõem”.
Na mesma linha, Francisco Ferreira admite que haja “fadiga e muito ruído” sobre as questões ambientais, que continuam um tema incontornável a reboque dos impactos climáticos extremos.
Enquanto Alexandra Azevedo diz que o tema está na ordem do dia, mas que na prática a incoerência entre o que se diz e o que se faz afasta as pessoas do ambiente, Bianca Mattos aponta dados que mostram que a maioria dos cidadãos europeus se preocupa com as alterações climáticas.
“Os impactos da crise climática estão cada vez mais visíveis, mas a atenção política oscila devido a priorização de outros assuntos, como conflitos e outras crises ligadas a setores económicos”, afirma.
As organizações ambientalistas, com exceção da Geota, estão presencialmente na COP30.
A conferência sobre o clima de Belém foi precedida de uma cimeira de líderes mundiais, de dois dias, que termina hoje.