Bruno Gomes fumou durante 25 anos, mas alguns sustos de saúde levaram-no às urgências e foram a motivação para deixar de fumar, um vício que contribui para a morte anual de mais de oito milhões de pessoas no mundo.
No Dia Europeu do Ex-Fumador, celebrado hoje, Bruno Gomes, 47 anos, conta a sua história numa campanha da Comissão de Trabalho de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP) para lembrar que “nunca é tarde para deixar de fumar e que há sempre benefícios para a saúde e bem-estar”.
“Mas, este ano, é urgente avisar os utilizadores de tabaco aquecido e de cigarros eletrónicos ou ‘vapes’ que, ao experimentarem estes produtos, se tornam facilmente muito dependentes da nicotina, precisando de tratamento para cessar”, alertou.
Trata-se do caso de Bruno Gomes que trocou o tabaco tradicional pelo tabaco aquecido e viu o seu estado de saúde agravar-se.
Bruno fumava cerca de 20 cigarros por dia e, em 2016, decidiu deixar o vício, por considerar não fazer “muito sentido fumar”, mas um colega sugeriu-lhe o tabaco aquecido, alegando que “fazia menos mal e não deixava cheiro”.
“Ligado à área comercial, o ‘stress’ é sempre uma coisa com que temos de lidar e passei para esse tabaco. Numa fase inicial fumava menos, mas depois comecei a fumar mais e passei praticamente para o dobro”, relata no vídeo da campanha.
Em 2021 começou a sentir falta de ar e uma pressão no peito que o levou algumas vezes à urgência. Não se descobriu a causa destes sintomas e no início deste ano teve um enfarte do miocárdio que o deixou “um pouco mais alerta”, mas não foi suficiente para largar o vício.
Voltou a ser internado em março com “uma sintomatologia muito complicada”, que se pensou ser “um tromboembolismo pulmonar, que não se confirmou.
Também se alvitrou que podia ser Evali, uma inflamação pulmonar associada ao uso tabaco aquecido e cigarro eletrónico, mas como foi detetada a tempo, foram evitados “mal maiores”.
Entretanto, foi referenciado para a consulta de desabituação tabágica, que disse ter sido “uma ajuda muito grande para deixar de fumar”.
Bruno deixou de fumar há seis meses e disse que se sente “claramente uma pessoa diferente, para melhor”: “Fiquei um bocadinho mais anafadinho, o que se resolve com um pouco de exercício, mas o respirar, o andar, a própria disposição é completamente diferente e aquela pressão e aquela ansiedade deixou de existir”.
O ex-fumador foi seguido na consulta pela pneumologista Sofia Ravara, coordenadora da Comissão de Trabalho de Tabagismo, que recordou à agência Lusa que “os fumadores portugueses são dos fumadores europeus que estão menos motivados para deixar de fumar”.
Para Sofia Ravara, é necessário fazer “um grande trabalho” de sensibilização dirigido aos fumadores do cigarro tradicional, mas também aos utilizadores dos novos produtos para mostrar que os médicos já estão a tratar estes fumadores com as mesmas doenças do tabaco e novas doenças e sintomas que aparecem até mais cedo.
“Os cigarros eletrónicos e o tabaco aquecido podem ser mais aditivos do que os cigarros normais e lançam os tóxicos para a circulação sanguínea e, como tal, eles vão causar doença a médio e longo prazo”, alertou, elucidando que já há casos de “doença grave e morte em pessoas que eram até bastante jovens” associadas a estes produtos.
Há mais de três décadas que a Organização Mundial de Saúde classifica o uso do tabaco e da nicotina como uma dependência e doença crónica, necessitando de tratamento.
“A maioria dos fumadores quer deixar de fumar e já tentou várias vezes sem ajuda e sem sucesso, sentindo-se dececionados e protelando a cessação. Como tal, muitos fumadores continuam a fumar e sofrem de doenças, sobretudo respiratórias, cardiovasculares e cancros, vivendo em média menos 10 anos do que os não fumadores”, alerta a SPP na campanha “Deixar de usar tabaco e nicotina: uma meta alcançável com tratamento”.