O Presidente da República defendeu que o essencial na política são as pessoas e não ideologia ou posicionamentos, considerando que muitos dos grandes problemas políticos são pessoais e do foro psicológico, apesar não ver isso em Portugal.
“As pessoas pensam, olhando para os poderes públicos e para a política, que o essencial é sempre a doutrina, a ideologia, as ideias e os posicionamentos. Não é. São as pessoas, são as pessoas”, defendeu Marcelo Rebelo de Sousa no discurso da sessão solene do VI Congresso da Ordem dos Psicólogos Portugueses e do XIII Congresso Ibero-americano de Psicologia, em Lisboa.
Dando o exemplo de dois políticos que “podem ter a mesma ideologia” e “se não se podem ver, não funciona”, o Presidente da República contrapôs com “dois políticos que podem ter ideologias diferentes e, se há uma compreensão e uma empatia recíproca, funciona”.
“Muitos dos grandes problemas políticos são problemas pessoais, são problemas do foro psicológico”, defendeu, recebendo palmas da assistência.
No entanto, Marcelo Rebelo de Sousa fez questão de esclarecer que este “não é o caso em Portugal, felizmente”, o que motivou uma gargalhada da plateia, explicando que é o que acontece “em muitas sociedades” sobre as quais lecionou como professor durante 40 anos.
O Presidente da República aproveitou este momento para elogiar “o trabalho e as lutas” do bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Francisco Miranda Rodrigues, que tinha feito no arranque da sessão solene um discurso de despedida uma vez que vai deixar o cargo após as próximas eleições, marcadas para o final de novembro.
“Depois de muitas lutas, ainda houve mais uma, quando de repente, o Governo anterior descobriu que era preciso desconfiar das ordens profissionais, que era preciso mitigar alguns dos seus poderes e foi um trabalhão para se conseguir chegar no parlamento, passo a passo, a uma solução de compromisso particularmente difícil de entender para ordens novas”, referiu.
Marcelo Rebelo de Sousa disse que compreendia este “acerto de contas” com as “velhas ordens”, mas enfatizou que “as novas não tinham contas a acertar nem havia dos poderes públicos contas a acertar com elas”.
Apontando que tinha ouvido os pedidos feitos ao ministro Leitão Amaro, que também discursou nesta cerimónia, e que foram “todos sobre os jovens, o acesso, a igualdade no acesso, para que não sejam só os privilegiados a terem acesso aos psicólogos”, o Presidente da República sublinhou a importância do “estatuto ser reconhecido em todas as áreas efetivamente”.
“Temos de reconhecer o passado e eu, muito brevemente, mas mal ele termine funções, eu reconhecerei em nome do Estado português, a gratidão pelos 16 anos de luta que teve à frente da vossa classe profissional”, disse, antecipando a condecoração ao bastonário.
Marcelo Rebelo de Sousa considerou ainda que “mudou o clima” em relação aos psicólogos nos últimos anos porque a sociedade vê o papel, a função, a profissão e a missão destes profissionais “de uma forma diferente, completamente diferente”.