A polícia encarregada da luta contra a cibercriminalidade no Irão deteve 24 pessoas acusadas de divulgar ‘online’ “rumores alarmistas” sobre a propagação do novo coronavírus no país, indicou hoje a agência semi-oficial ISNA.
O Covid-19 causou 19 mortos na República Islâmica entre os 139 casos registados desde a semana passada, o maior balanço a seguir ao da China, onde o vírus apareceu em dezembro.
“Vinte e quatro pessoas foram detidas e entregues à justiça e 118 internautas foram interrogados e libertados”, após uma advertência, declarou Vahid Majid, o chefe da unidade da polícia encarregada de cibercriminalidade, segundo a ISNA.
As detenções ocorreram após a criação de uma unidade especial para “lutar contra os rumores alarmistas sobre a ‘propagação do coronavírus no país’”, precisou Majid, citado pela agência.
Majid disse que “a polícia vigia todas as informações divulgadas no ciberespaço do país”, adiantando que a sua unidade toma medidas contras as informações, imagens e vídeos “contendo rumores ou falsas informações visando perturbar o público e aumentar a preocupação na sociedade”.
O Irão acusou hoje os Estados Unidos de difundirem “o medo” à volta do novo coronavírus, um dia depois do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, ter apelado ao Irão para “dizer a verdade” sobre a epidemia no país.
Hoje foi a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) a acusar o Irão de ocultar informações sobre a propagação do Covid-19, lamentando igualmente a repressão dos jornalistas que publicam informações independentes.
“As autoridades afirmam controlar a situação, mas recusam divulgar o número exato dos infetados e mortos e impedem os jornalistas de fazerem o seu trabalho”, considerou a organização.
“A 23 de fevereiro, o jornalista independente Mohammad Mosaed foi convocado e interrogado por agentes de informações dos Guardas da Revolução, após mensagens sobre a epidemia publicadas nas redes sociais”, denuncia a RSF, que precisa que Mosaed foi libertado, mas que as suas contas no Twitter e Telegram foram encerradas e o seu telefone e computador apreendidos.
A RSF apoia-se nas declarações de Ahmad Amir Abadi Frahani, um deputado de Qom, epicentro da doença no Irão, que disse na segunda-feira que 50 pessoas tinham morrido na sua cidade devido ao coronavírus e acusou o Ministério da Saúde de ter atrasado o anúncio.
“Há um ano que a República Islâmica esconde as informações sobre as crises e as catástrofes – inundações, movimentos de protesto popular, destruição em voo do Boeing ucraniano”, lamentou Reza Moini, o responsável do gabinete dos RSF no Irão.
“A retenção de informação pode matar”, assinalou.