Uma chamada de atenção para a importância e o aumento da incidência de depressão na sociedade atual é o objetivo da peça “R999”, a estrear-se no dia 13, em Lisboa, disse hoje à Lusa a encenadora Yolanda Alves.
“R999”, código internacional para causas de morte desconhecidas, é a nova criação do Teatro de Papel – Associação Cultural, a estrear-se no auditório da Biblioteca Orlando Ribeiro, em Lisboa, e que, segundo a encenadora, “aborda a depressão e a solidão através do género do terror psicológico”.
Chamar a atenção para a “cada vez maior agressividade com que grande parte dos seres humanos reagem a situações normais” é outro dos fins da peça, que aborda “a depressão e solidão como uma questão de saúde pública global”, acrescentou a encenadora, para quem “a saúde mental continua a ser muito descurada em Portugal”.
“Contribuir de forma ativa para reduzir o estigma associado à saúde mental” é outro propósito do espetáculo.
Sem qualquer fala, “R999” vive do “forte impacto visual e emocional, que funde terror psicológico com teatro” à medida que vai pondo a nu a luta interna da protagonista contra o isolamento mental, numa narrativa que possibilita a “qualquer público refletir sobre a complexidade da condição humana”, observou Yolanda Alves, que também dirige o espetáculo.
A evocação de memórias reprimidas e a incursão “perturbadora” por alucinações que distorcem a perceção da realidade por parte da protagonista estão também patentes na peça, “uma experiência imersiva” para a qual concorre a conceção contraposta do figurino de Patrícia Cyrne.
Um primeiro figurino, negro e pesado, que simboliza a luta interna da protagonista contra a depressão, a solidão e o luto, refletindo a densidade da dor e a perda gradual de controlo sobre a realidade, estabelece-se contra um segundo figurino, branco, como uma “alucinação etérea de alguém muito próximo”, refere uma nota com a apresentação da peça.
Uma escolha que “acentua a natureza quase fantasmagórica e a leveza da memória, que, embora seja um apoio que já não existe, continua a influenciar a protagonista”, acrescenta a encenadora.
Com três récitas, de 13 a 15 deste mês, sempre às 21:00, “R999” é “um espetáculo de luz e som aterradores”, no qual a escuridão se converte numa personagem à parte e em que "o silêncio é interrompido por sons inesperados que ressoam na mente da protagonista, causando-lhe sensações de vulnerabilidade”, lê-se na sinopse da obra.
Em “R999”, a solidão é “amplificada” com cada ruído que vai surgindo de um local desconhecido, criando no público uma atmosfera de tensão semelhante à sofrida pela protagonista.
Com autoria e dramaturgia de José Ricardo, Pedro Luz e Yolanda Alves, com os dois últimos a interpretarem, a peça tem sonoplastia de Yolanda Alves, operação de som de Ana Gameiro e fotografia e vídeo de Luís Lopes.
Em fevereiro de 2026, em datas a definir, “R999” será representada no Auditório Fernando Lopes-Graça, em Almada, adiantou à Lusa Yolanda Alves.
O Teatro de Papel – Associação Cultural foi fundado em 10 de setembro de 1989, na Costa de Caparica, tendo desde então apresentado espetáculos na Malaposta, no Festival de Teatro de Almada, nos teatros da Trindade e Maria Matos, em Lisboa, entre outros. Atualmente tem sede em Almada.