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Covid-19: Comerciantes queixam-se de ameças da polícia no maior centro comercial em Díli

LUSA
30-03-2020 13:26h

Comerciantes do maior centro comercial de Timor-Leste queixaram-se hoje de ter sido ameaçados por agentes da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) depois de serem ordenados a fechar as lojas numa “aplicação errada” das medidas do estado de emergência.

Os agentes ordenaram aos comerciantes que fechassem as lojas e ameaçaram voltar e “partir” as vitrinas das lojas se reabrissem, segundo um relatório do incidente a que a Lusa teve acesso.

“É uma situação muito preocupante pelos danos ao setor privado e pelo facto de não estar a deixar clara a situação. Em vez disso, são eles próprios, a polícia, que está a causar a confusão”, disse à Lusa Tony Jape, diretor do centro comercial Timor Plaza.

“Seguimos a lei com todo o cuidado, mas depois é a própria polícia que parece estar a aplicar outra lei. Fazem isto, mandam fechar e com ameaças e depois entregam documentos em que diz o contrário, que podemos ter as lojas abertas”, afirmou.

Tony Jape lamentou que a polícia “não esteja a ser corretamente informada” da lei em vigor desde sábado, considerando que a situação pode ser “muito perigosa” para o setor privado.

No relatório do Departamento de Operações do Timor Plaza, a que a Lusa teve acesso, refere-se que cerca das 15:45 de hoje uma equipa da PNTL, acompanhada pelo segundo comandante Euclides Belo, entrou no centro comercial e começou a ordenar o fecho de lojas, com exceção de restaurantes, supermercados e farmácias.

“A polícia disse aos comerciantes que tinham que fechar as portas imediatamente a partir de hoje e que se não o fizessem a polícia voltava e partia-lhes os conteúdos das lojas”, refere-se no relatório.

“Tentámos falar com eles, mas deram-nos uma cópia da ordem que supostamente estavam a implementar”, acrescenta-se.

A força policial, acompanhada de repórteres das duas televisões timorenses RTTL e GMN, ordenou o fecho de todas as lojas, abandonando depois o local, segundo a mesma fonte.

De acordo com o diretor do centro comercial, a ordem de fecho vai contra as próprias instruções que a polícia entregou e que referem as medidas em vigor desde sábado, que não obrigam ao fecho de qualquer espaço comercial, exigindo apenas a preparação de zonas de higienização e a aplicação de distanciamento social.

A ação policial contradiz uma informação comunicada pelo próprio comando da PNTL, no sábado passado, alegou Tony Jape.

Os incidentes no Timor Plaza juntam-se a ações idênticas da PNTL em várias zonas de Díli, num dia de grande confusão na disseminação pelo Governo da informação sobre as medidas do estado de emergência, segundo relatos à Lusa.

Entre as lojas mandadas encerrar estão as de fornecimento de material de construção que estão a ser procuradas por residentes de Díli e empresas envolvidas, entre outras, na recuperação de casas destruídas pelas cheias deste mês na capital.

Foram ainda travados em vários municípios camiões que transportavam bens alimentares, especialmente frutas e verduras.

Agentes da PNTL estiveram também a parar, durante todo o dia, motoristas, obrigando-os a usar máscaras – algo que também não está no decreto – e a aplicarem regras sobre números de passageiros que podem viajar em carros, algo também não definido no diploma.

A própria Secretaria de Estado da Comunicação Social timorense esteve hoje a difundir durante várias horas uma lista de restrições a serviços comerciais e circulação, entre outras, que não fazem parte das medidas do estado de emergência.

Os documentos, que estiveram disponíveis várias horas na página oficial da secretaria de Estado no Facebook – e que foram retirados depois de perguntas da Lusa – eram apresentados como uma simplificação do decreto de medidas aprovadas no sábado pelo Conselho de Ministros.

Entre as medidas comunicadas pelo principal gabinete de difusão de informação oficial do Governo, estavam supostas proibições a viagens entre municípios ou á permanência de indivíduos na via pública.

Nenhuma destas medidas está no decreto do Governo.

Questionado pela Lusa sobre os documentos, o secretário de Estado da Comunicação Social, Merício Akara, disse que a equipa que preparou os documentos “se referiu a uma versão inicial do documento, mas não à final”.

“Vamos proceder aos ajustamentos agora”, referiu.

Fonte do executivo confirmou à Lusa que as medidas erradamente incluídas nos documentos da Secretaria de Estado estavam detalhadas numa versão inicial do decreto que foi a debate no Conselho de Ministros.

Ainda assim, essas medidas foram retiradas e acabou por ser aprovado um decreto sem restrições à circulação ou à atividade comercial, suspendendo apenas os transportes coletivos.

Timor-Leste tem até agora um caso confirmado da covid-19.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 727 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 35 mil.

Dos casos de infeção, pelo menos 142.300 são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

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