O Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou hoje o adiamento do voto popular previsto para 22 de abril sobre a reforma constitucional e que inclui uma emenda que lhe permitirá cumprir novo mandato a partir de 2024.
Putin não indicou uma nova data para o plebiscito, referindo que dependerá da forma como evoluir a pandemia de covid-19 provocado pelo novo coronavírus.
No decurso de um raro discurso transmitido pela televisão, anunciou ainda que o Governo pretende que a população não compareça no trabalho durante a próxima semana, exceto nos setores essenciais. O comércio, farmácias e bancos vão permanecer abertos.
“Considero ser necessário adiar o voto para uma data posterior”, declarou, antes de exortar a população para permanecer em casa. “A saúde, a vida e a segurança do povo é uma prioridade absoluta para nós”, disse ainda.
Uma das emendas constitucionais vai permitir a Putin candidatar-se a mais dois mandatos presidenciais de seis anos a partir de 2024, podendo manter-se no Kremlin até 2036.
O líder da Rússia, 67 anos, está no poder desde 2000, o mais longo período de um dirigente do país desde o ditador Josef Estaline, e que poderá ultrapassar caso cumpra mais dois termos.
As autoridades russas referiram-se hoje a mais 163 casos da covid-19 nas últimas 24 horas, para um total de 658, um aumento mais significativo em comparação com os dias anteriores.
Os casos de infeção relativamente baixos da Rússia, atendendo à dimensão do país e por partilhar fronteiras com a China, está a colocar dúvidas entre alguns setores, refere a agência noticiosa Associated Press (AP).
Na terça-feira, o presidente da câmara municipal de Moscovo, Sergei Sobyanin, disse a Putin que o baixo número de casos na Rússia poderá refletir um insuficiente rastreio da população e disse que a situação é “séria”.
Denis Protsenko, responsável médico do principal hospital de Moscovo que está a assistir doentes com covid-19, associou-se às preocupações de Sobyanin e disse posteriormente a Putin que a Rússia deverá “preparar-se para o cenário italiano”.
Em meados de março, as autoridades russas anunciaram o início da construção de um hospital na periferia de Moscovo, que segundo o presidente da câmara da capital é inspirado na “experiência dos parceiros chineses”, que em fevereiro construíram no tempo recorde de dez dias um hospital pré-fabricado de 1.000 camas em Wuhan, o epicentro da epidemia do coronavírus que partiu da China.
Na semana passada Putin confirmou a votação nacional sobre revisão constitucional, mas na ocasião admitiu um adiamento em caso de agravamento da situação. Visitou ainda diversas instalações hospitalares e conferenciou com responsáveis sobre as estratégicas para conter a pandemia.
Entre as alterações constitucionais, também se enfatiza a prioridade da lei russa face às normas internacionais, uma provisão que reflete a irritação do Kremlin com o Tribunal europeu de direitos humanos e outros organismos internacionais, que emitem com frequências veredictos contra a Rússia.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou perto de 428 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 19.000.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.