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Covid-19: Governo de Macau não deve exigir mais aos casinos, que tentam recuperar - especialista

LUSA
24-03-2020 09:00h

O especialista Glenn McCartney disse hoje à Lusa que não se pode exigir mais responsabilidade social aos operadores de jogo, quando os 'resorts' integrados estão a tentar recompor-se do impacto económico causado pelo surto da covid-19.

“A indústria praticamente não tem receitas desde há várias semanas”, não são só os 'resorts' integrados, mas todas as empresas que estão dentro desses complexos, “todos os retalhistas, os restaurantes, o setor de entretenimento, os bares”, afirmou à Lusa o professor em Gestão Internacional de ‘Resorts’ Integrados da Universidade de Macau Glenn McCartney.

“É um efeito dominó que afeta todos”, sublinhou.

Hoje, o chefe do Executivo de Macau avisou as operadoras que exploram o jogo no território que é momento para responderem ao desafio da responsabilidade social, quando as autoridades procuram hotéis para converter em centros de quarentena.

Ho Iat Seng admitiu ainda que poderá incluir uma cláusula de responsabilidade social a cumprir pelas operadoras.

Com milhares de pessoas sob quarentena e cerca de 1.500 isoladas em oito hotéis, o chefe do Governo de Macau explicou que os serviços “estão desiludidos” com a dificuldade de encontrar estabelecimentos e frisou que as operadoras e os ‘resorts’ “têm de ver como devem assumir a responsabilidade social”.

“O que eu gostava de ouvir eram discursos de colaboração em vez de ‘estes são os meus termos’”, criticou o especialista, acrescentando que todos os ‘resorts’ integrados “têm sido bons ‘cidadãos’”.

As medidas tomadas pelo Governo têm resultado e a população tem apreciado as decisões das autoridades, como o controlo fronteiriço no território e a obrigatoriedade de quarentena de 14 dias imposta a praticamente toda a gente que entra em Macau, considerou.

O Governo mandou encerrar os casinos, bares e ginásio, por exemplo “e [os operadores] encerraram, não houve negociação”, frisou, reforçando que o Governo tem exigido respostas que têm sido sempre dadas pelos operadores.

“Chegará uma altura em que tem de existir colaboração turística (…) entre o setor publico e o setor privado, a trabalhar lado a lado num problema que é comum”, disse.

Claro que se pode dizer que as concessionarias têm dinheiro, mesmo o Governo de Macau tem reservas financeiras significativas, “mas quem sofre mais é o pequeno negócio” que depende destes megacomplexos turísticos e comerciais para sobreviver, frisou Glenn McCartney.

“A Indústria [do jogo] neste momento espera uma clara indicação de quando é que partes da China vão estar abertas” para o turismo em Macau, afirmou.

“Não se está a pedir para voltar à normalidade, porque isso demorará algum tempo, mas ao menos poderem receber algumas pessoas e assim começar a entrar alguma receita dentro dos 'resorts' integrados”, concluiu o especialista.

Os números oficiais atuais apontam para uma quebra de 95% no número de visitantes em fevereiro e de receitas dos casinos em cerca de 90%. O Governo de Macau prevê uma perda para metade das receitas no jogo este ano.

Capital mundial do jogo, Macau é o único local na China onde o jogo em casino é legal. Operam no território seis concessionárias: Sociedade de Jogos de Macau, fundada pelo magnata Stanley Ho, Galaxy, Venetian (Sands China), Melco Resorts, Wynn e MGM.

Os casinos fecharam 2019 com receitas de 292,46 milhões de patacas (cerca de 32,43 milhões de euros), menos 3,4% do que no ano anterior.

As autoridades de Macau anunciaram na segunda-feira mais um caso de contágio da covid-19, elevando o número de infetados para 25 desde o início do surto do novo coronavírus.

Este foi o 15.º caso detetado pelas autoridades em pouco mais de uma semana, depois de Macau ter estado 40 dias sem identificar qualquer infeção.

Macau registou uma primeira vaga de dez casos em fevereiro, que já tiveram alta hospitalar. Após a deteção de novos casos, todos importados, as autoridades reforçaram medidas de controlo e restrições fronteiriças.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 345 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 15.100 morreram.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Vários países adotaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.

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