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Covid-19: Sindicato do Comércio acusa quatro misericórdias do Norte de “irregularidades”

23-03-2020 19:54h

O Sindicato dos Trabalhadores do Comércio denunciou hoje "irregularidades" praticadas nas Misericórdias de Freixo de Espada à Cinta, Mirandela e Chaves, em Trás-os-Montes, e também na da Póvoa de Varzim, no distrito do Porto.

As denúncias partiram da coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), Marisa Ribeiro, que, numa conferência de imprensa hoje no Porto, e destacando como maior preocupação do sindicato o “setor social”, disse existirem “misericórdias que não fizeram planos de contingência em relação ao uso de material de segurança individual, como luvas ou de álcool e onde os colaboradores trabalham 12 horas seguidas".

E especificou: "temos o caso da Santa Casa de Freixo de Espada à Cinta, em que as funcionárias trabalham 12 horas seguidas, com duas pausas de meia hora. Na Santa Casa de Mirandela os funcionários trabalham sete dias consecutivos e ficam a dormir no chão do ginásio e na área social de Vidago da Santa Casa de Chaves, os trabalhadores estão oito dias consecutivos a trabalhar sem folgas".

Marisa Ribeiro referiu ainda a Santa Casa da Póvoa de Varzim onde disse que “o álcool é racionado para as funcionárias e onde há máscaras feitas a partir de batas".

Contactado pela Lusa, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Mirandela, Adérito Gomes, disse haver “funcionárias a fazer turnos não de sete, mas de 15 dias seguidos, de forma livre e voluntária, para acautelar a vida dos cerca de 90 idosos no lar onde o novo regime de trabalho está em vigor”.

O responsável disse ainda que as funcionárias “não estão a dormir num pavilhão, nem no chão, mas em camaratas dentro do lar para não saírem e correrem o risco de ser contaminadas e contaminarem os idosos” e que tal “foi-lhes pedido, não foi imposto”.

Da Santa Casa da Misericórdia de Chaves, o provedor Jorge Pinto de Almeida explicou que no Lar de Vidago "há mais de 10 dias" que foram implementadas "algumas regras e alguns cuidados".

"Fizemos um plano de contingência em cada equipamento. Como sabíamos que íamos entrar neste período, garantido o funcionamento e segurança, cada diretora técnica teve a sua liberdade com os trabalhadores de escolher o melhor para cada equipamento. Ninguém impôs nada. Os dias que trabalham, descansam imediatamente a seguir os mesmos dias", assinalou.

Apesar de várias tentativas não foi possível ouvir, até ao momento, nenhum dos responsáveis da Santa Casa da Misericórdia de Freixo de Espada à Cinta.

A Lusa tentou ouvir as Misericórdias da Póvoa de Varzim e Freixo de Espada à Cinta, mas tal não foi possível até ao momento.

Ainda na conferência de hoje, o sindicato deu conta de "centenas de queixas tanto dos super e hipermercados" recebidas diariamente desde o início da crise e indicou terem apresentado reclamações na Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) por "haver lojas, nomeadamente do Pingo Doce, Dia Portugal e Clarel, em que os trabalhadores continuam a trabalhar sem proteção".

Para além da "falta de álcool e luvas para os colaboradores" nesses "locais de trabalho", a coordenadora do CESP acusa ainda as empresas de "praticarem um roubo".

"A circunstância em que vivemos não lhes dá o direito [às empresas] de retirar os direitos aos trabalhadores, de os porem a trabalhar muito mais horas do que a sua carga horária, havendo neste momento trabalhadores a fazer nove ou dez horas de trabalho contínuo e, muitas vezes, sem folgar ao fim dos cinco dias", anotou.

Enumerando situações de "exaustão e de pânico" desses trabalhadores, o sindicato exige ao Governo que "clarifique a situação das remunerações para quem foi para casa" e recusa que os patrões "queiram transformar casos de quarentena em férias ou baixa compulsiva".

À Lusa, o Departamento de Relações Exteriores da DIA Portugal, grupo onde se insere também a Clarel, expressou serem diariamente “confrontados com a escassez de materiais de proteção” e que têm “feito todos os esforços para encontrar soluções de fornecimento” por forma a que os “colaboradores tenham todos os riscos minimizados”.

Lê-se ainda na comunicação que “a DIA Portugal reitera que respeita toda a lei laboral vigente em Portugal e que estará sempre disponível para dialogar com as associações representativas dos seus colaboradores”.

A Lusa tentou ouvir o Grupo Jerónimo Martins, responsável pelo Pingo Doce, mas, até ao momento, tal não foi possível. 

Em Portugal, há 23 mortes e 2.060 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral de Saúde.

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