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Associações de doentes pedem compromisso público com a oncologia

LUSA
10-12-2025 08:00h

Associações de doentes exigem ao Governo, às principais entidades de saúde e aos deputados da Assembleia da República medidas urgentes para enfrentar o cancro, classificando-o como uma verdadeira “emergência de saúde pública”.

Numa carta aberta, divulgada no Dia dos Direitos Humanos, os oito signatários, associações de doentes e uma sociedade médica, recordam que, em Portugal, todos os dias, 191 pessoas recebem o diagnóstico de cancro e 92 morrem, números que evidenciam a gravidade do problema e a urgência de uma resposta política firme e coordenada.

“O cancro representa atualmente um dos principais desafios para a saúde pública e para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, referem a AC Rim, a Careca Power, a Europacolon Portugal, a Associação EVITA - Cancro Hereditário, a Liga Portuguesa Contra o Cancro, a Plataforma Saúde em Diálogo, a Pulmonale e a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde, no documento ao qual a agência Lusa teve acesso.

As associações defendem cinco áreas prioritárias de intervenção: reforço da prevenção primária, diagnóstico precoce e rastreios, acesso equitativo a tratamentos, geração e recolha de evidência com registo oncológico nacional e maior investimento em inovação.

Entre as propostas, destacam-se a criação de uma entidade específica para a oncologia, a revisão da “Via Verde” oncológica e o uso responsável da inteligência artificial para planos de tratamento individualizados.

O papel dos subscritores é sublinhado como essencial na defesa dos direitos dos doentes, na promoção da literacia em saúde e no apoio psicossocial.

Para tal, exigem reconhecimento institucional e financiamento adequado, de forma a poderem cumprir plenamente a sua missão.

No texto, é feito um convite à ação política imediata, com a marcação de reuniões formais com o Governo, Ministério da Saúde, Comissão Parlamentar de Saúde, Direção-Geral da Saúde, Direção Executiva do SNS e Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed).

As associações pedem compromissos públicos concretos e calendarizados, acompanhados de indicadores de avaliação e revisão periódica.

“Cada atraso num rastreio, num exame ou no acesso a tratamentos traduz-se em vidas e qualidade de vida perdidas”, alertam os signatários.

Para as associações, o combate ao cancro deve ser assumido como um desígnio nacional, exigindo coragem política, visão e humanidade.

As associações lembram que em 2022 se registaram 69.567 novos casos de cancro e 33.762 mortes, tornando a doença a segunda causa de morte no país.

Atualmente, existem mais de 203 mil casos prevalentes a cinco anos, ou seja pessoas que foram diagnosticadas com cancro e estão vivas passado esse período.

Este número deverá aumentar significativamente até 2050, em grande parte devido ao envelhecimento populacional.

A tendência preocupa também entre os mais jovens, onde os diagnósticos têm vindo a crescer, acompanhando padrões internacionais.

A carta alerta ainda para o impacto económico e social da doença.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o cancro poderá reduzir em 1,9 anos a esperança média de vida em Portugal até 2050.

Em 2021, perderam-se mais de 629 mil anos de vida saudável, com forte repercussão na participação laboral e nos encargos da Segurança Social e do SNS.

Apesar da gravidade da situação, segundo as associações, Portugal “continua a investir menos em saúde do que a média europeia, cerca de 38% abaixo”.

Em 2024, a despesa total em saúde ultrapassou 29 mil milhões de euros, dos quais 18,5 mil milhões corresponderam ao SNS.

Os medicamentos oncológicos representaram apenas 4% dessa despesa, apesar de estar demonstrado que “maior investimento em oncologia se traduz em melhores resultados e maior sobrevivência”, afirmam as associações.

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