SAÚDE QUE SE VÊ

Ordem dos Dentistas alerta para emigração de médicos e exige medidas

LUSA
03-12-2025 12:45h

A Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) alertou hoje para a emigração de clínicos devido à falta de condições económicas, à instabilidade profissional e à ausência de políticas estruturais, exigindo medidas para travar a crise.

O estudo “Diagnóstico à Profissão 2025”, divulgado hoje, resulta da análise de 2.658 inquéritos validados entre 6 de junho e 6 de julho.

De acordo com o documento, 7% dos médicos dentistas já trabalham fora do país, sobretudo em França, Reino Unido e Suíça e apenas 18% dos inquiridos admitem regressar. Entre os restantes, 16,1% emigraram no último ano e 46% vivem no estrangeiro há mais de cinco anos.

Entre os mais jovens, com menos de 30 anos, 41,7% decidiram emigrar antes mesmo de concluir o curso, sinalizando “falta de oportunidades no mercado nacional”.

As principais razões apontadas para a emigração abrangem rendimentos insatisfatórios (55%), desvalorização da profissão (48,3%) e procura de melhor qualidade de vida (43,9%).

A precariedade laboral é outro fator crítico, sendo que 60,4% têm remuneração variável dependente de tratamentos realizados, muitas vezes através de recibos verdes, sem estabilidade contratual.

O estudo revela ainda que 62,6% dos profissionais consideram o rendimento abaixo do expectável para as habilitações que possuem e 56,7% afirmam que não corresponde às horas de trabalho.

Também a interferência dos seguros e planos de saúde, apontada por 82,4% dos inquiridos, agrava a instabilidade e compromete a autonomia da classe.

Para o bastonário da OMD, a situação representa um “risco sistémico” para a economia e para a saúde pública.

“Se não criarmos condições para garantir rendimentos justos, estabilidade contratual e regulação dos seguros, continuaremos a assistir à saída de profissionais qualificados, o que terá um impacto direto na economia nacional e na equidade do acesso aos cuidados de saúde”, alertou Miguel Pavão, citado em comunicado.

Entre as medidas propostas para o Orçamento do Estado para 2026, a OMD defende a criação da Carreira Especial de Médico Dentista no Serviço Nacional de Saúde (SNS), seguindo o modelo da Madeira, para assegurar estabilidade e progressão. Propõe também a afetação de 30% da receita do imposto sobre bebidas açucaradas à saúde oral, reforçando programas de prevenção e alargando o “cheque-dentista”.

A ativação dos mais de 80 gabinetes de medicina dentária nos cuidados de saúde primários, atualmente encerrados, é outra prioridade.

A OMD sugere ainda a reformulação do programa “Cheque-Dentista”, com cheques específicos para reabilitação prostética e traumatismos, garantindo resposta a situações críticas.

“Estas medidas não são meras recomendações, mas sim soluções estruturais para proteger a saúde oral dos portugueses, travar a perda de talento e garantir que os médicos dentistas encontram condições para construir uma carreira no país”, sublinha o organismo.

MAIS NOTÍCIAS