O governo norte-americano foi hoje processado judicialmente por uma coligação de grupos de médicos e organizações de saúde pública, pela decisão de suspender a recomendação de vacinação contra Covid-19 para a maioria das crianças e grávidas.
A ação judicial foi apresentada num tribunal federal em Boston pela Academia Americana de Pediatria, a Associação Americana de Saúde Pública e outros quatro grupos — juntamente com uma médica grávida não identificada que trabalha num hospital.
Richard H. Hughes IV, o principal advogado dos autores da queixa judicial, afirmou que o governo de Donald Trump é "uma ameaça existencial à vacinação nos Estados Unidos", e que os responsáveis pela nova política "estão apenas a começar".
"Se não for controlado, o secretário [da Saúde, Robert F.] Kennedy alcançará o seu objetivo de livrar os Estados Unidos das vacinas, o que desencadearia uma onda de danos evitáveis às crianças do nosso país", adiantou o representante legal dos queixosos, que incluem o Colégio Americano de Médicos, a Sociedade de Doenças Infecciosas da América, a Associação de Saúde Pública de Massachusetts e a Sociedade de Medicina Materno-Fetal.
O secretário da Saúde anunciou no final de maio a retirada da vacinação contra Covid-19 das recomendações dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) para crianças e grávidas saudáveis.
Anteriormente, as autoridades de saúde norte-americanas, seguindo a orientação de especialistas em doenças infecciosas, tinham recomendado a vacinação anual contra a Covid-19 a todas as pessoas com 6 meses ou mais.
Vários especialistas em saúde criticaram a medida, considerando-a confusa, e acusaram Kennedy de desconsiderar o processo de revisão científica em vigor há décadas — no qual especialistas reveem publicamente as provas médicas mais recentes e discutem os prós e os contras das mudanças de política.
O novo processo reitera estas preocupações, alegando que Kennedy e outros nomeados políticos do Departamento de Saúde e Serviços Humanos desrespeitaram os procedimentos federais e tentaram sistematicamente enganar o público.
Os Estados Unidos foram o país mais afetadado pela pandemia da Covid-19, com 1,2 milhões de mortes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O anúncio de Robert Kennedy Jr., um assumido cético sobre as vacinas, seguiu-se a um da entidade reguladora dos medicamentos, a Food and Drug Administration (FDA) de que a agência só recomendaria a vacinação contra a Covid-19 para pessoas com 65 anos ou mais, ou para aquelas que, com idades entre os seis meses e 64 anos, tenham pelo menos um fator de risco para desenvolver uma forma grave da doença.
A decisão surge numa altura em que Kennedy Jr. Pretende reformar a política de vacinação do país.
A FDA anunciou que os Estados Unidos exigirão que as empresas farmacêuticas conduzam testes clínicos sobre os benefícios das vacinas contra a Covid-19 para pessoas saudáveis com menos de 65 anos.
O objetivo, dizem, será determinar os benefícios e riscos da vacinação anual contra a Covid-19 em pessoas que não correm risco.
O responsável da saúde é acusado de alimentar a desconfiança dos norte-americanos na vacinação ao espalhar repetidamente informações falsas sobre as vacinas contra a Covid-19 e contra o sarampo.
Durante a pandemia, em 2020, Robert Kennedy Jr. fez afirmações consideradas inaceitáveis pelos especialistas, ao referir que as vacinas contra a Covid-19 eram as "mais letais já feitas" e que o vírus tinha um "alvo étnico", para prejudicar pessoas negras e brancas, poupando "chineses e asquenazes (comunidade judaica da Europa Central e do Leste Europeu)".