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Conflito no Sudão do Sul aumenta deslocados e propaga surto de cólera na Etiópia

LUSA
31-03-2025 15:55h

O conflito no Sudão do Sul aumentou o número de deslocados e refugiados na Etiópia, propagando um surto de cólera que está a provocar uma “crise humanitária de rápida evolução”, alertaram hoje os Médicos Sem Fronteiras (MSF).

“A situação está a deteriorar-se rapidamente, à medida que milhares de pessoas que fogem da violência no Sudão do Sul atravessam a fronteira à procura de segurança”, alertaram os MSF.

Em Burbeiye, na fronteira entre o Sudão do Sul e a Etiópia, surgiu um campo "quase de um dia para o outro, com mais de 6.500 recém-chegados, segundo os administradores locais, muitos deles mulheres, crianças e idosos", indicou a organização.

Estas deslocações ameaçam expandir o surto de cólera que começou no estado do Alto Nilo no ano passado, segundo os MSF, que adianta que os estados vizinhos do Sudão do Sul e a região de Gambella, na Etiópia, estão a registar um aumento de casos, sendo que em Gambella as equipas dos MSF e do Ministério da Saúde da Etiópia já trataram mais de 560 doentes.

Os confrontos entre o Governo do Sudão do Sul e a oposição, que começaram no estado do Alto Nilo, que faz fronteira com o Sudão e a Etiópia, ameaçam alastrar a outras zonas e, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 10.000 pessoas já atravessaram a fronteira para a Etiópia desde o início de março.

“Já testemunhámos como este conflito alimentou a propagação da cólera em várias zonas, mas uma nova escalada do conflito pode empurrar todo o país para uma catástrofe humanitária sem precedentes”, disse o chefe de missão dos MSF no Sudão do Sul, Zakaria Mwatia, num comunicado.

A organização médica está a tratar de pessoas feridas e abriu também centros de cólera noutras regiões onde se verificou um aumento dos casos.

No condado de Akobo, no estado vizinho de Lankien, foram tratados mais de 300 doentes com cólera em apenas duas semanas e, em todo o país, os MSF trataram mais de 1.000 pessoas com esta doença, que pode ser altamente letal se não for tratada.

O chefe de missão dos MSF na Etiópia, Joshua Eckley, afirmou que há muitas necessidades e que a situação pode piorar.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou este fim de semana, que, para além do conflito político, o país está a viver “um pesadelo humanitário”, com três em cada quatro sul-sudaneses a necessitar de assistência e metade da população a sofrer de insegurança alimentar, agravada por um surto de cólera.

A situação é agravada pelo facto de o Sudão do Sul acolher também mais de um milhão de pessoas deslocadas do vizinho Sudão, que vive a sua própria guerra e, a nível económico, o país vive o seu pior momento devido à queda dos preços do petróleo (a sua principal fonte de rendimento) e a inflação é galopante, enquanto a ajuda humanitária está a ser reduzida, como no resto do mundo, após os cortes aplicados pelos Estados Unidos e também países europeus.

Angola, um país africano que pertence à comunidade lusofona, também está a enfrentar um surto de cólera, reportando mais 511 casos nos últimos três dias, dos quais 27 fatais, estando agora a província de Benguela no epicentro da doença.

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