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Ordem dos Médicos propõe criação de comissão para desenvolver nova carreira médica

Lusa
14-11-2024 17:26h

A Ordem dos Médicos (OM) propôs ao Ministério da Saúde a criação de uma comissão para o desenvolvimento da nova carreira médica, que deve abranger os médicos internos desde o início da sua vida profissional, disse hoje o bastonário.

“Propusemos à ministra uma nova abordagem da carreira médica, com aspetos novos, mais adaptados à realidade hoje da medicina em Portugal”, disse Carlos Cortes à Lusa, a propósito do Inquérito de Satisfação do Internato Médico, promovido pelo terceiro ano consecutivo pelo Conselho Nacional do Médico Interno da Ordem dos Médicos (CNMI), hoje divulgado.

A OM já entregou à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, a proposta que visa criar a nova carreira médica, mas o que solicita agora é a criação de uma comissão para o seu desenvolvimento.

Segundo Carlos Cortes, a nova carreira médica deve ter “um enquadramento diferente” e incluir os médicos internos, para que “comecem a progredir desde o início da sua vida profissional”.

Defendeu que deve incluir um conjunto de mecanismos de apoio, de defesa, de proteção, no bem-estar e na saúde, para todos os médicos, mas também “mecanismos relevantes na formação médica” e na investigação, para os profissionais poderem ter mais acesso à formação contínua.

O bastonário realçou a importância destas medidas, porque “há uma grande desilusão dos médicos em relação à própria profissão” como demonstrou o inquérito, segundo o qual 36% dos médicos internos inquiridos disse que não voltaria a escolher o curso de Medicina.

“A quase totalidade dos médicos internos está a desenvolver a sua atividade no Serviço Nacional de Saúde e nós sabemos que, infelizmente, hoje o SNS tem condições muito adversas para o desenvolvimento da formação médica”, afirmou Carlos Cortes, adiantando que os jovens médicos são muitas vezes utilizados para “suprir indevidamente falhas ou faltas de recursos humanos em hospitais, por exemplo, em escalas de serviço de urgência”.

Devido a estas dificuldades, a OM tem dado “atenção redobrada” aos internos, através de várias linhas de intervenção que o Gabinete Nacional do Apoio ao Médico está a desenvolver para tornar a profissão e o SNS mais atrativos.

“Essa atratividade tem que começar logo durante a formação no período do internato médico” para os médicos se manterem a trabalhar no SNS “num ambiente, digamos, mais saudável, com mais apoio, mais segurança”.

Na análise do ranking de especialidades, o estudo encontrou alguns paralelismos entre o maior nível de satisfação e algumas das especialidades habitualmente escolhidas por médicos internos com melhor classificação no concurso de ingresso na formação especializada, de que são exemplo a Neurorradiologia, a Oftalmologia e a Dermatovenereologia.

No sentido inverso, estão algumas das especialidades cujas vagas são frequentemente apenas ocupadas no final do procedimento concursal, destacando-se a Medicina Interna, que nos últimos anos tem ficado com dezenas de vagas por ocupar nos concursos.

Para Carlos Cortes, estas escolhas não se devem propriamente aos internos não gostarem de determinadas especialidades, mas porque as condições em que se trabalha nessas especialidades, como a Medicina Interna, são “muito desadequadas”, com “uma grande sobrecarga de trabalho devido à falta muito grande de recursos humanos”.

O presidente do CNMI, José Durão, disse, por seu turno à Lusa, que este inquérito tenta trazer “ao de cima algumas fragilidades do sistema, localizá-las um bocadinho melhor”, para que possam apresentar-se soluções mais dirigidas para determinados serviços, instituições ou regiões do país.

José Durão notou que se está “numa época de viragem”, adiantando que a tutela apresentou recentemente “um sinal positivo, que foi a tentativa de rever o regulamento do internato médico”, o que a OM vê “com muito bons olhos”.

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