Autoridades e especialistas de saúde japoneses reconheceram hoje que a quarentena decretada por causa do coronavírus Covid-19 no navio de cruzeiro Diamond Princess, ancorado há várias semanas num porto no Japão, não foi uma situação perfeita.
A bordo do Diamond Princess, ancorado desde o dia 03 de fevereiro no porto de Yokohama, a sul de Tóquio, encontra-se Adriano Maranhão, canalizador no navio de cruzeiro e o primeiro português a quem foi confirmado a infeção pelo novo coronavírus.
Apesar de terem admitido que a gestão da situação no cruzeiro não foi perfeita, as autoridades de saúde nipónicas defenderam a decisão do Japão de autorizar o desembarque de cerca de 1.000 passageiros após 14 dias de isolamento.
As autoridades argumentaram que as entidades de saúde japonesas tiveram de enfrentar a gestão de um difícil desafio, uma vez que a situação envolveu um navio gerido por entidades estrangeiras e exigiu negociações internacionais perante a ausência de regras estabelecidas para uma crise desta natureza.
“O navio não foi projetado para ser um hospital. O navio é um navio”, afirmou, em Tóquio, o ex-diretor regional da Organização Mundial de Saúde (OMS), Shigeru Omi, em declarações citadas pela agência norte-americana Associated Press (AP).
“É claro que o isolamento não foi o ideal como seria de esperar se ocorresse num hospital, portanto, na minha opinião, embora o isolamento tenha sido de alguma forma eficaz, como medida de larga escala não foi perfeito”, referiu o perito nipónico.
Das 3.711 pessoas que estavam inicialmente a bordo do Diamond Princess, mais de 690 contraíram o vírus e três morreram.
Perante as críticas lançadas à gestão da quarentena decretada no navio de cruzeiro, Shigeru Omi, especialista em saúde pública que chefia a Organização de Assistência à Saúde do Japão, afirmou que as medidas adotadas foram as melhores que as autoridades nipónicas podiam ter feito.
Segundo o perito, não era possível testar e realocar todas as pessoas para outros sítios para cumprir a quarentena.
Alguns médicos especialistas que ajudaram no navio de cruzeiro disseram que a quarentena foi mal gerida.
O Ministério da Saúde nipónico informou hoje que dois funcionários governamentais que ajudaram na gestão da situação do Diamond Princess foram diagnosticados com o novo coronavírus e foram hospitalizados, elevando para seis o número de casos de infeção confirmados entre funcionários do governo japonês.
A maioria dos cerca de 1.000 tripulantes permanece a bordo do navio de cruzeiro em quarentena.
Devido à necessidade de manter a operacionalidade do navio e de fornecer os serviços aos passageiros durante o período inicial de quarentena, os tripulantes não puderam ser adequadamente isolados, segundo referiu a AP.
O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros disse hoje à Lusa que o Governo português continua a insistir com as autoridades japonesas para que o português infetado com o novo coronavírus seja transferido para uma unidade hospitalar.
“O nosso concidadão continua no navio em quarentena e ainda não foi transferido para um hospital de referência. Continuamos a insistir com as autoridades japonesas para que o seja. Esperamos que venha a ser nas próximas horas ou dias”, afirmou Augusto Santos Silva.
Também em declarações à Lusa hoje de manhã, a mulher de Adriano Maranhão disse que o tripulante já tinha sido visto pelo médico do navio de cruzeiro, tendo sido medicado para a febre.
O surto de Covid-19, que teve origem na China, já infetou mais de 79.000 pessoas em todo o mundo, segundo os números das autoridades de saúde dos cerca de 30 países afetados.
Depois da China, Japão, Coreia do Sul, Singapura, Itália e Irão são os países e territórios com mais casos de infeção.
A OMS avisou hoje que o mundo tem de se preparar para uma “eventual pandemia” do novo coronavírus, considerando “muito preocupante” o “aumento repentino” de casos em Itália, Coreia do Sul e Irão.
"Devemos concentrar-nos na contenção [da epidemia], enquanto fazemos todo o possível para nos prepararmos para uma possível pandemia", disse o diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, numa conferência de imprensa em Genebra (Suíça).