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Exposição a espaços naturais no confinamento foi benéfica para portugueses e espanhóis

LUSA
17-06-2021 08:18h

Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluíram que a exposição a espaços naturais durante o primeiro confinamento devido à covid-19 foi benéfica para a saúde mental dos cidadãos portugueses e espanhóis.

Em declarações à agência Lusa, Ana Isabel Ribeiro, investigadora do instituto do Porto e primeira autora do trabalho, explicou hoje que o mesmo visava “perceber se a exposição a espaços naturais tinha implicações na saúde mental dos cidadãos”.

“A nossa hipótese era se aqueles indivíduos que continuaram expostos a espaços naturais poderiam ter uma melhor saúde mental neste período de crise de saúde pública”, afirmou.

A investigação, desenvolvida em parceria com o Institute of Environmental Science and Techonolgy da Universidade Autónoma de Barcelona (ICTA-UAB), foi publicada na revista científica Environment International.

“Apesar de vizinhos, Portugal e Espanha tinham, no primeiro confinamento, medidas restritivas de combate à pandemia da covid-19 diferentes”, referiu a investigadora, lembrando que os cidadãos espanhóis estavam privados de usar e frequentar os espaços naturais públicos.

Nesse sentido, os investigadores lançaram um questionário, que esteve disponível ‘online’ entre os meses de março e maio de 2020 e que abarcava questões como a frequência, o tipo de exposição aos espaços naturais, o tipo de habitação, a saúde mental, os níveis de stress, de perturbação mental e de sintomas psicossomáticos.

O questionário abrangia ainda diferentes tipologias de espaços naturais como plantas interiores, plantas exteriores, hortas, jardins privados, contemplação de espaços naturais e espaços naturais públicos.

No inquérito participaram 3.157 cidadãos com 18 anos ou mais e que permaneceram em Espanha ou Portugal durante o confinamento, sendo que do total de participantes 1.638 eram portugueses e 1.519 espanhóis.

Nos dois países, houve uma redução significativa no uso dos espaços naturais públicos como as praias e jardins e, um aumento do contacto com os espaços naturais privados, como jardins de prédios, hortas urbanas e plantas.

De acordo com a Ana Isabel Ribeiro, a investigação mostrou que em Portugal, “46% dos inquiridos aumentaram e mantiveram a exposição” aos espaços naturais públicos.

“De facto, aqueles indivíduos que conseguiram manter ou até mesmo aumentar a frequência com que contemplavam os espaços de natureza (jardim, montanha, mar) durante este período apresentaram menores níveis de perturbação psicológica e também menores níveis de sintomas psicossomáticos”, afirmou.

A investigadora salientou ainda que os indivíduos que utilizavam os espaços verdes “apresentavam menores níveis de ‘stress’, perturbação psicológica e somatização”, bem como os que contemplaram espaços naturais a partir das suas casas.

Já em Espanha, apenas “34% dos indivíduos aumentaram ou mantiveram os hábitos de exposição”.

“Confirmamos a nossa hipótese. Se em Portugal, há um papel importante da frequência dos espaços naturais, em Espanha, as variáveis mais importantes foram a exposição aos espaços verdes privados e às plantas no interior das casas”, referiu.

O estudo mostra que em Espanha, o contacto com os espaços de natureza privados, como as plantas interiores e os jardins comunitários, contribuiu para a redução dos níveis de ‘stress’ dos cidadãos, dos sintomas psicossomáticos, estando associado a “maiores benefícios para a saúde mental”.

Segundo Ana Isabel Ribeiro, os resultados da investigação permitiram concluir a hipótese inicialmente colocada: “os indivíduos com maior exposição aos espaços naturais têm melhor saúde mental do que aqueles que não têm”.

Citada no comunicado do ISPUP, a investigadora Margarita Triguero-Mas, da ICTA-UAB, salienta que o estudo é “especialmente importante para cidades como Barcelona, onde os edifícios de novas construções raramente têm espaços comunitários com vegetação”.

“É importante que se reavalie como as remodelações ou novas casas podem ser espaços mais saudáveis, que promovam e previnam a saúde das pessoas que os habitam”, defende.

 

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