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Covid-19: Ruas da Amadora concorridas no segundo confinamento

LUSA
15-01-2021 14:49h

Longe do cenário do primeiro confinamento, as ruas do centro da Amadora continuam hoje concorridas, apesar de as filas só serem visíveis à porta de cafés e bancos. A grande maioria das pessoas passeia, fintando o recolher cívico obrigatório.

Naquela que é a primeira manhã do segundo confinamento decretado pelo Governo no âmbito da pandemia de covid-19, até 30 de janeiro, a vida no centro da cidade, no distrito de Lisboa, mantém-se apenas com algumas diferenças, constatou a Lusa.

No Jardim Delfim Guimarães, os bancos continuam ocupados por quem já há muitos anos deixou de trabalhar. Não querem falar à câmara de televisão, mas vão deixando escapar que têm de se continuar a mexer e a apanhar ar.

À sua frente, lojas fechadas: boutiques de roupa, sapatarias, esteticistas ou cabeleireiros, que ficaram fora das exceções dos estabelecimentos de bens e serviços essenciais.

As regras gerais do novo confinamento passam por ficar em casa, limitar os contactos ao agregado familiar, reduzir as deslocações ao essencial, usar máscara de proteção, manter o distanciamento físico, lavar as mãos e cumprir etiqueta respiratória.

Algumas pessoas vão em passo apressado. Nas mãos, sacos onde se entreveem compras. Mas a grande maioria, sobretudo mais idosos, segue conforme pode, cumprindo o uso de máscara, mas sem o distanciamento de dois metros quando pára para cumprimentar o vizinho ou conhecido com quem se cruza.

“São pessoas que deveriam estar em casa. Eu estou aqui, na fila do banco, porque vim fazer um depósito para o patrão, as minhas funções não me permitem estar em teletrabalho”, diz à Lusa Vanda Lopo, enquanto espera para entrar na dependência bancária, lamentando a presença dos idosos na rua.

Em relação ao primeiro confinamento, entre março e abril de 2020, Vanda Lopo reconhece que “está a ser diferente, um bocadinho mais agitado”, olhando em redor. No seu entender, as escolas deveriam ter fechado.

“Concordo com o novo confinamento, mas as medidas deveriam ser mais restritas e as escolas fechadas. Não fechando, há mais gente nas ruas”, sublinha.

António Pereira é um dos idosos que reconhecem, a meio da manhã, ser “ainda cedo” para ir buscar o almoço - razão que o faz andar na rua à semelhança dos outros dias -, mas frisa que só o faz de manhã e passa o resto do dia em casa.

“Acho que anda assim-assim, se calhar menos gente em relação a ontem [quinta-feira]. As pessoas, vamos lá ver, quando vier o verão já não se lembram disto, querem é ir para a praia, mas a prevenção é sempre boa”, diz, acrescentando que a situação atual “está pior porque as pessoas abusaram no Natal”.

Na rua paralela à estação de comboios da Amadora, Andreia, do Snack Bar Ariana, serve à porta o pequeno-almoço a Maria José, uma vizinha de 79 anos, que em dia de análises clínicas optou por tomar o café na rua, “com medo que acontecesse alguma coisa antes de chegar a casa”.

“Venho cá algumas vezes, até buscar o almoço. Mas hoje foi mais cedo porque fui às análises”, conta, admitindo que só tem queixas do “bicho, que nunca mais se vai embora”, e concordando com as novas medidas de confinamento.

“Mas é preciso que todos façam a sua parte, uns fazem, outros não. Com as multas vamos ver. Hoje vai correr tudo bem, mas depois já não corre. Anda tudo ao molho e fé em Deus, sem cuidados”, critica.

Maria José conta que com a idade que tem nunca se viu "nestas confusões”. Lamenta a falta de interesse pelos idosos, por parte de alguns responsáveis, nomeadamente nos apoios que poderiam ser prestados.

“Nós como somos mais velhos somos obrigados a estar em casa, obrigados a estar resguardados. Agora vou para casa e já não saio, andámos a pedir a reforma para estarmos metidos em casa”, lamuria.

Em consenso, Andreia, Manuel Esteves, da Pastelaria Lusa, Sofia e Maria João, do Forno Real, reconhecem que os espaços onde trabalham tiveram de se adaptar às novas medidas, com os pedidos feitos à porta.

Até agora, os seus cafés e pastelarias têm conseguido manter-se, mas tiveram de reinventar-se e proporcionar o ‘take-away’ das refeições, que anteriormente serviam dentro portas.

Maria João, que entre a conversa com a reportagem da Lusa vai apregoando a quem passa que há café ou sumo, reconhece que o novo confinamento poderá levar ao fecho de muitos estabelecimentos.

“Acho que não é um confinamento que vai ter qualquer tipo de resultado. O único que eu acho que vai ter é muita casa como a nossa fechar, é o resultado que acho. Ao nível de baixar os números [de infetados por covid-19] não estou a ver”, perspetiva.

As angústias são partilhadas por Diogo, um dos rostos à frente do Talho Majestade, que, apesar de identificar “uma ligeira quebra no volume do negócio”, lamenta a situação de outros ramos que estão fechados e não conhecem o seu futuro.

“Hoje há menos pessoas a entrar, o movimento na rua é menor”, comenta, reconhecendo que no primeiro confinamento as pessoas “não foram bem informadas e houve uma procura maior dos produtos” ao mesmo tempo: “Agora há mais informação e as pessoas veem aos poucos, sem aquela afluência do primeiro”.

À porta do Centro Comercial Babilónia, um dos ícones da cidade, encontra-se um segurança, munido de um termómetro que aponta a quem quer entrar para os poucos serviços autorizados a funcionar - no espaço funciona um notário e um registo predial. As lojas, essas, estão agora fechadas.

Também no exterior, a maioria do comércio está fechado, algumas lojas com cadeados à porta, outras com cortinados a tapar as montras, só mostrando os pés dos manequins que fazem espelho com os passos de quem pelos passeios se atravessa.

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