Como tantos outros médicos, sobretudo da região norte do país, Luís Guimarães não tem tido mãos a medir nas últimas duas semanas. A trabalhar como “tarefeiro” no Serviço de Urgência do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa (CHTS), o jovem clínico garante que “houve um acesso exponencial” de doentes nas últimas duas semanas.
Em entrevista ao Canal S+, Luís Guimarães recorda que o CHTS foi feito para servir 250 mil pessoas dos concelhos vizinhos – Paços de Ferreira, Lousada e Felgueiras - e não para receber o dobro, como tem vindo a acontecer. Os últimos dados oficiais indicam que, só em Paços de Ferreira, foram registados até 10 de Novembro, 3698 casos de infectados pelo SARS-COV-2, colocando o concelho no top dos concelhos mais afectados a nível nacional.
O médico “tarefeiro” do Serviço de Urgência do CHTS lamenta que a “urgência seja um serviço de ninguém”, dado que a maior parte dos médicos que trabalham nestes serviços não têm qualquer vínculo com os centros hospitalares, apesar de estarem a fazer um trabalho absolutamente fundamental em plena crise pandémica da COVID-19.
Hoje, a taxa de ocupação da maior parte das Unidades de Cuidados Intensivos (UCIS) dos hospitais da região norte situou-se acima dos 90%.
Nesta entrevista ao S+, Luis Guimarães confirma que o “Hospital de Penafiel muito que multiplicou a sua capacidade de internamento, por isso tivemos doentes internados na urgência”. O jovem médico adianta ainda que o “habitual no Serviço de Urgência de Penafiel é a entrada de 300 a 400 doentes. Nos últimos dias, tivemos o dobro”, sublinha.
O clínico alerta também que os médicos “tarefeiros” que “são o grosso dos médicos que estão à frente da pandemia”, são colocados nos Serviços de Urgência sem disporem de um seguro de risco, como sucede com os médicos contratados; apesar de ambos os grupos estarem na “linha da frente” a correr os mesmo riscos.
Luís Guimarães revela que muitos médicos “tarefeiros” que trabalham nos serviços de urgência dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) estão a trabalhar 12 ou até 24 horas seguidas e ainda “vão para outros sítios onde têm outras carreiras”. Para o jovem médico, o problema poderia ser ultrapassado se fosse criada a especialidade de medicina urgencista, o que nem sempre tem vindo a ser visto com bons olhos por parte de outros clínicos de outras especialidades, como é o caso de medicina interna. De resto, Portugal é dos poucos países da Europa que não dispõe ainda da especialidade de medicina urgencista.
Apesar das condições de trabalho, extremamente difíceis, com que Luís Guimarães tem de lidar todos os dias no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS), o médico sente que está a viver um momento único. “Considero-me neste momento um privilegiado, porque não tenho filhos, moro apenas com a minha namorada, consigo ter a liberdade nestas semanas longas ter uma relação distante fisicamente das pessoas que me são queridas. Dá-me tranquilidade”, afirma.
De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado hoje pela Direção Geral da Saúde (DGS), Portugal registou 5.891 novos casos de infeção pelo SARS-COV-2 e há a lamentar 79 mortes associadas à doença covid-19 nas últimas 24 horas.