O Fórum Nacional de Psicologia (FNP) defendeu hoje que a disponibilização de intervenções psicológicas em larga escala no Serviço Nacional de Saúde será “a estratégia mais adequada e efetiva” para enfrentar a “era covid-19 e pós-covid-19”.
Uma estratégia que permite “prevenir problemas mais graves de saúde mental e, desta forma, poupar recursos financeiros e poupar no sofrimento dos portugueses”, segundo o FNP, constituído por 30 instituições de ensino superior públicas e privadas, que asseguram a formação em Psicologia em Portugal, e pela Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Para as instituições, a situação “é complexa e requer uma intervenção especializada, sendo imprescindível e urgente o reforço do número de psicólogos no Serviço Nacional de Saúde, em especial nos cuidados de saúde primários".
Em declarações à agência Lusa, o coordenador do FNP, Saúl Neves de Jesus, explicou que o Fórum Nacional de Psicologia pretende “ir ao encontro daquilo que em cada momento são as necessidades mais óbvias e neste caso foi a pandemia que levou” a uma tomada de posição devido à preocupação com o que pode acontecer.
O objetivo é alertar as autoridades para a necessidade de haver mais psicólogos no SNS e para encararem esse reforço como “um investimento para prevenir quadros de doença mental” que levam a que as pessoas a faltarem ao trabalho, a estar de baixa, a andarem insatisfeitas e a tomar medicação, defendeu Saúl Neves de Jesus.
Segundo o coordenador, o SNS precisaria de, pelo menos, o dobro dos 250 psicólogos que tem atualmente para dotar as pessoas com “um conjunto de competências” que as ajude a ser “mais resilientes, mais resistentes” e “mais produtivas” para enfrentar as necessidades resultantes da pandemia e também prevenir situações de stress, ansiedade e depressão.
“Até a própria economia e o tecido empresarial irão beneficiar se tivermos trabalhadores mais motivados, mais capazes, mais competentes, mais produtivos e, portanto, tem que se encarar isto como um investimento e não como uma despesa”, argumentou o também vice-reitor da Universidade do Algarve.
À dimensão económica acresce ainda uma redução significativa do sofrimento da pessoa e da sua família e respetivo impacto no bem-estar, refere o documento produzido pelas instituições.
Estudos recentes mostram que 49,2% dos portugueses reportaram impacto psicológico moderado ou grave, variando os níveis de depressão, ansiedade e stress, perante o atual estado de pandemia.
Segundo o documento, "os efeitos da pandemia covid-19 serão múltiplos e profundos e as consequências para a saúde psicológica dos cidadãos ocuparão um lugar de destaque”.
“Quer a população geral, quer grupos específicos como os profissionais de saúde, quer a população com problemas de saúde mental/psicológica pré-existentes estão vulneráveis aos efeitos adversos da pandemia sendo que estes podem ser exacerbados pelo medo, isolamento e distanciamento social”, alerta.
Para o FNP, "é também provável que as consequências para a saúde mental sejam mais duradouras e atinjam o seu pico após a pandemia ter sido ultrapassada mantendo-se risco de depressão e de perturbação de stress pós-traumático naqueles que sobrevivem à doença”.
Para o FNP, a resposta a este problema tem de passar por tornar acessíveis a todos um diagnóstico precoce dos problemas de saúde mental ou psicológica, a sua monitorização e encaminhamento para respostas adequadas.
Defende também a promoção de esforços de prevenção e promoção da saúde mental/psicológica, através de ações de monitorização e intervenção nos determinantes sociais e comportamentais da saúde, da promoção da literacia, bem como “estratégias de promoção da adoção de estilos de vida saudáveis ou da autorregulação e do autocuidado, não só nos cuidados de saúde primários, mas também nos contextos laborais e escolares”.