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Médicos Sem Fronteiras alertam que sarampo continua a matar milhares em África

LUSA
15-05-2020 19:03h

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou hoje para os milhares de infeções e mortes causadas pelo sarampo em países como a República Democrática do Congo, Chade ou República Centro-Africana.

"Embora a atenção internacional esteja centrada na pandemia da covid-19, o sarampo continua a matar um grande número de pessoas, na sua maioria crianças, na República Democrática do Congo (RDCongo), na República Centro-Africana (RCA) e no Chade", alertou a organização.

Os MSF recordam que "o maior surto de sarampo do mundo continua a propagar-se pela RDCongo, que também está a combater uma epidemia de Ébola".

Desde junho, foram registados mais de 332 mil casos da doença na RDCongo, onde, segundo a organização, a resposta à epidemia de sarampo foi negligenciada e ofuscada pelo combate ao Ébola, tendo sido declarada tardiamente, registando atrasos nas campanhas de vacinação e falta de apoios.

Fatores, que segundo os MSF, contribuíram para que mais de 6.200 pessoas tenham morrido de sarampo, 85% das quais são crianças com menos de 5 anos de idade.

"Este número é quase três vezes superior ao número de mortes causadas pelo Ébola (2.268 mortes, segundo a Organização Mundial da Saúde), mas a epidemia de sarampo recebe apenas uma fração da atenção e dos recursos", aponta a organização.

Emmanuel Lampaert, coordenador de operações dos MSF na RDCongo, admite que o número global de casos possa ter diminuído, mas assegura que a "epidemia está longe de ter terminado".

"Algumas áreas estão mesmo a registar aumento [do número de casos] e há cerca de 100 zonas de saúde onde é urgente tomar medidas", disse.

"Desde janeiro, já foram oficialmente notificados mais de 50.000 casos e 600 mortes", acrescentou Lampaert, assinalando que "muitas zonas com um número crescente de casos e mortes não estão incluídas no plano nacional de luta contra o sarampo".

A organização adianta ter vacinado mais de 260 mil crianças contra o sarampo em 10 regiões do país e tratado mais 17.500 que já tinham a doença.

Em 2019, o número de crianças vacinadas pelos MSF atingiu as 816 mil crianças e o tratamento de 50 mil doentes de sarampo.

No Chade, um surto de sarampo mantém-se há dois anos, e na RCA foi declarado um outro surto em janeiro.

Oficialmente declarada em maio de 2018, a epidemia atinge agora 118 das 126 regiões de saúde do Chade, com as províncias perto da fronteira com a RCA a registarem um rápido aumento dos casos.

Durante os primeiros três meses de 2020, o Ministério da Saúde do país comunicou 7.412 casos suspeitos de sarampo.

Desde que foi registado o primeiro caso de covid-19 no Chade, em 19 de março, a maioria das organizações humanitárias e dos doadores desviaram a atenção para as atividades de prevenção da pandemia, adiantam os MSF, que temem que a campanha de vacinação contra o sarampo possa estar em risco.

"Apesar de a covid-19 ser a situação de emergência que atrai toda a atenção do país e dos doadores, a resposta à epidemia de sarampo continua a ser a nossa principal prioridade", afirmou a chefe da missão dos MSF no Chade, Seidina Ousseini.

"O Chade enfrenta uma crise económica desde 2015, e o governo simplesmente não tem capacidade ou fundos para responder à covid-19 e ao sarampo ao mesmo tempo", sublinhou.

Mergulhada há anos em violência e insegurança, a República Centro-Africana (RCA) vive em "estado de emergência sanitária crónica", segundo os MSF, que assinalam que os cinco milhões de habitantes, 700 mil dos quais estão deslocados internamente, não têm acesso a cuidados de saúde e muitas crianças não foram vacinadas.

Em janeiro de 2020, o Ministério da Saúde declarou uma epidemia de sarampo à escala nacional e os MSF lançaram uma campanha para vacinar mais de 340 mil crianças em sete zonas sanitárias.

"Os desafios logísticos e os custos de uma campanha de vacinação em larga escala em zonas tão remotas e isoladas do país são enormes", afirmou Ester Gutierrez, chefe de missão dos MSF na RCA.

"Muitas destas áreas só podem ser alcançadas por via aérea e as nossas equipas móveis passam frequentemente vários dias no terreno para chegar às aldeias mais remotas", acrescentou.

A estes constrangimentos, soma-se a insegurança, que em muitas zonas impede as iniciativas de vacinação previstas.

No conjunto, adiantam os MSF, estes surtos de sarampo infetaram centenas de milhares de crianças e mataram milhares de outras.

"Algumas morrem em casa, nunca tendo chegado aos cuidados médicos adequados ou tendo sido vistas apenas por um curandeiro", referem.

A República Democrática do Congo regista 1.299 casos de infeções pelo novo coronavírus de que resultaram já 51 mortes, o Chade contabiliza 399 casos e 46 mortes e a República Centro Africana 221 casos sem registo de mortes pela covid-19.

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