A enfermeira equato-guineense detida na semana passada por alegar que o hospital onde são tratados os doentes com coronavírus não tinha oxigénio foi libertada, disseram hoje fontes judiciais de Malabo.
“Foi libertada na terça-feira (...) com a obrigação de comparecer perante um juiz a cada 15 dias", disse Honório Ndong Obama, o primeiro juiz de instrução de Malabo, citado pela agência France-Presse.
De acordo com a ordem do tribunal, o Ministério Público pediu a prisão preventiva de Nuria Obono Ndong Andeme pela "autoria do delito de violação de segredo", um crime punível com penas de 10 a 12 anos de prisão.
Em causa está uma mensagem de áudio enviada através do serviço WhatsApp a uma amiga, na qual a enfermeira apontava falhas existentes no hospital.
"O hospital Sampaka, cuja capacidade de tratar doentes de coronavírus é ostentada na televisão nacional, não tem oxigénio para os doentes de covid-19", terá afirmado a enfermeira.
A mensagem começou a circular, na quarta-feira da semana passada, nas redes sociais e a enfermeira foi convocada no próprio dia pelo ministro da Saúde, Salomon Nguema Owono, que apresentou queixa judicial contra ela.
A cadeia de televisão nacional, TVGE, difundiu, entretanto, um desmentido das autoridades de saúde, mostrando tanques de oxigénio.
A detenção de Nuria Obono Ndong Andeme num período de luta contra a pandemia de covid-19 causou indignação e foi criticada pelo partido Convergência para a Democracia Social (CPDS), na oposição, que exigiu, em comunicado, a libertação imediata da enfermeira, alegando que "uma cuidadora, neste momento, é mais importante que a fúria do ministro".
O CPDS entende que o comentário foi feito na esfera privada e que não há, por isso, lugar a que seja sancionada.
"A liberdade de expressão é garantida pela Constituição", disse, por seu lado, o Cidadãos pela Inovação, outro partido da oposição dissolvido pelas autoridades em fevereiro de 2018.
Um movimento pró-democracia e de direitos humanos, SOMOS +, tinha lançado uma campanha exigindo a liberdade da enfermeira chamada: "Sou Nuria Obono Ndong".
Na Guiné Equatorial, as autoridades reportaram hoje 83 casos positivos para o coronavírus, e uma primeira morte associada à doença.