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Covid-19: Libertada enfermeira detida na Guiné Equatorial por alegar falhas em hospital

LUSA
23-04-2020 16:03h

A enfermeira equato-guineense detida na semana passada por alegar que o hospital onde são tratados os doentes com coronavírus não tinha oxigénio foi libertada, disseram hoje fontes judiciais de Malabo.

“Foi libertada na terça-feira (...) com a obrigação de comparecer perante um juiz a cada 15 dias", disse Honório Ndong Obama, o primeiro juiz de instrução de Malabo, citado pela agência France-Presse.

De acordo com a ordem do tribunal, o Ministério Público pediu a prisão preventiva de Nuria Obono Ndong Andeme pela "autoria do delito de violação de segredo", um crime punível com penas de 10 a 12 anos de prisão.

Em causa está uma mensagem de áudio enviada através do serviço WhatsApp a uma amiga, na qual a enfermeira apontava falhas existentes no hospital.

"O hospital Sampaka, cuja capacidade de tratar doentes de coronavírus é ostentada na televisão nacional, não tem oxigénio para os doentes de covid-19", terá afirmado a enfermeira.

A mensagem começou a circular, na quarta-feira da semana passada, nas redes sociais e a enfermeira foi convocada no próprio dia pelo ministro da Saúde, Salomon Nguema Owono, que apresentou queixa judicial contra ela.

A cadeia de televisão nacional, TVGE, difundiu, entretanto, um desmentido das autoridades de saúde, mostrando tanques de oxigénio.

A detenção de Nuria Obono Ndong Andeme num período de luta contra a pandemia de covid-19 causou indignação e foi criticada pelo partido Convergência para a Democracia Social (CPDS), na oposição, que exigiu, em comunicado, a libertação imediata da enfermeira, alegando que "uma cuidadora, neste momento, é mais importante que a fúria do ministro".

O CPDS entende que o comentário foi feito na esfera privada e que não há, por isso, lugar a que seja sancionada.

"A liberdade de expressão é garantida pela Constituição", disse, por seu lado, o Cidadãos pela Inovação, outro partido da oposição dissolvido pelas autoridades em fevereiro de 2018.

Um movimento pró-democracia e de direitos humanos, SOMOS +, tinha lançado uma campanha exigindo a liberdade da enfermeira chamada: "Sou Nuria Obono Ndong".

Na Guiné Equatorial, as autoridades reportaram hoje 83 casos positivos para o coronavírus, e uma primeira morte associada à doença.

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