Sérvios, judeus e rons (ciganos) da Croácia reuniram-se hoje pela primeira vez em cinco anos na cerimónia oficial às vítimas do campo de Jasenovac, designado o “Auschwitz croata”, após um boicote para denunciar o regresso do “revisionismo” ao país.
O campo foi dirigido pelo regime ustasha, aliado da Alemanha nazi, que perseguiu e massacrou centenas de milhares de sérvios, judeus, rons e opositores croatas durante a Segunda Guerra Mundial.
Hoje quando se celebra o 75.º aniversário do seu desmantelamento, representantes de sérvios, rons, judeus e de croatas antifascistas participaram nas comemorações ao lado de altos responsáveis croatas, num tributo aos mortos e que incluiu a deposição de uma guirlanda frente ao monumento em forma de pétalas de flor erguido em sua memória.
A sua participação na cerimónia deste ano foi justificada para testemunhar a sua solidariedade durante a pandemia do coronavírus e iniciar com as autoridades de Zagreb um diálogo sobre a intolerância.
“A situação não se alterou mas atendendo à difícil situação provocada pelo vírus (…) decidimos juntar-nos à cerimónia”, declarou Ognjen Kraus, responsável por uma organização que engloba diversas associações judaicas.
“Também estendemos a mão [ao Governo] para abordar questões escaldantes (…) e apagar as acusações dirigidas à Croácia devido ao revisionismo histórico. Queremos atos, não palavras”, acrescentou.
O Governo conservador croata em sido criticado nos últimos anos pela sua inação face ao ressurgimento da ideologia ustasha.
Após colocar uma coroa de flores, o primeiro-ministro croata Andrej Plenkovic assegurou que o seu Governo “se empenha [para reforçar] a compreensão e a tolerância na sociedade” e “alimentar a cultura da memória”.
“É importante que as jovens gerações estejam ao corrente das principais atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. Um dos episódios tristes e odiosos ocorreu em Jasenovac”, salientou.
O Presidente social-democrata Zoran Milanovic, eleito em janeiro, também esteve presente, ao contrário da conservadora Kolinda Grabar-Kitarovic, a anterior chefe de Estado.
Os grupos de vítimas, que desde 2016 organizavam a sua própria cerimónia de homenagem, indignaram-se particularmente pela inauguração em Jasenovac de uma placa comemorativa que incluía a frase do regime ustasha pró-nazi “Za Dom Spremni” (“Prontos pela pátria”, em português).
A placa, colocada por antigos paramilitares ultranacionalistas croatas foi retirada, mas depois instalada a uma dezena de quilómetros do campo.
Na Croácia ustasha de Ante Pavelic, o efémero Estado independente croata /NDH) aliado da Alemanha de Hitler, e que na ocasião anexou a Bósnia-Herzegovina, foram erguidos cerca de 80 campos de detenção.
Jasenovac distinguiu-se por ser o maior e o mais brutal campo de concentração da região dos Balcãs. Numerosos detidos foram mortos a golpes de martelo, de faca e por outros métodos destinados a provocar o máximo de sofrimento.
O número de vítimas permanece controverso, em particular após as sangrentas guerras civis que acompanharam a dissolução da ex-Jugoslávia socialista e federal na década de 1990.
O museu de Jasenovac indica 83.000, enquanto outras fontes, incluindo sérvias, se referem a 700.000 mortes. O museu do Memorial do Holocausto em Washington avalia em 100.000 o número de vítimas.