A consultora Capital Economics considerou hoje que a resposta de emergência da África do Sul contra a pandemia vai aliviar os constrangimentos do isolamento, mas arrisca obrigar à implementação de medidas de austeridade em 2021.
"A resposta orçamental apresentada pelo Presidente da África do Sul ontem [terça-feira] à noite vai ajudar a aliviar alguns dos constrangimentos à economia causados pelo isolamento, mas chegando um mês depois da implementação destas medidas, muito do dano já foi feito, e o próprio desenho das medidas evidencia as recorrentes preocupações no Governo sobre a fraca posição orçamental, pelo que um regresso à austeridade parece estar nas cartas para 2021, o que vai prejudicar a recuperação económica", dizem os analistas.
Numa nota de análise sobre o pacote de estímulo orçamental no valor equivalente a quase 25 mil milhões de euros, enviada aos clientes e a que a Lusa teve acesso, os consultores escrevem que "a ajuda impressiona pelos montantes envolvidos" e apontam que "o Governo foi extremamente lento a aprovar apoios económicos para as famílias e as empresas".
Não se percebe, criticam, "por que razão este apoio demorou tanto tempo", alvitrando que "pode ser devido à conhecida tendência de Ramaphosa de procurar consensos alargados, mas também pode refletir os constrangimentos impostos sobre as fracas finanças públicas".
Para a Capital Economics, o facto de o Presidente não ter mencionado, no discurso de segunda-feira à noite, qualquer emissão de dívida nos mercados internacionais, "mostra que um apoio de curto prazo do Fundo Monetário Internacional é cada vez mais provável".
No discurso à nação, o Presidente disse que "este pacote de medidas de estímulo à economia é o equivalente a cerca de 10% do nosso PIB" e referiu que o "apoio social e económico maciço" contempla a canalização de cerca de 130 mil milhões de rands (6,35 mil milhões de euros) do orçamento, fundos domésticos, nomeadamente através do Fundo de Desemprego, e ainda empréstimos junto de parceiros globais e instituições financeiras internacionais.
Nesse sentido, Cyril Ramaphosa adiantou que o Tesouro está a negociar "opções de financiamento" com o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, o banco BRICS (bloco regional formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).
De acordo com a agência de informação financeira Bloomberg, que cita o representante do FMI no país, o pacote de ajuda do Fundo pode chegar a 4,2 mil milhões de dólares, com uma maturidade de cinco anos e uma taxa de juro ligeiramente acima de 1%.
O número de mortes provocadas pela covid-19 em África subiu para mais de 1.195, com mais de 24 mil casos registados da doença em 53 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 176 mil mortos e infetou mais de 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.