A pandemia da covid-19 pode levar a uma maior aposta dos governos africanos nos sistemas de saúde, que têm sido negligenciados por elites que recorrem aos países ricos para atendimento médico, considerou o académico moçambicano Lourenço do Rosário.
"O confinamento está a dar esta lição, quando isto acabar nada vai ser igual", no modo como os governantes africanos gerem os sistemas de saúde, defendeu Lourenço do Rosário, fundador e primeiro reitor de A Politécnica, a primeira universidade privada em Moçambique.
O facto de os dirigentes africanos estarem impedidos de recorrer a cuidados médicos no exterior, devido ao encerramento de fronteiras no âmbito do novo coronavírus levará a uma mudança de abordagem em relação à saúde.
"Neste momento, toda a gente está de braços atados, à espera que o sistema nacional de saúde possa resolver a questão", afirmou.
A medicina privada em África não é alternativa para o atendimento de casos da covid-19, devido ao seu fraco desenvolvimento, sendo os hospitais públicos a única opção, prosseguiu.
"Nós não temos um subsistema privado que possa resolver a questão colocada pela covid-19", sublinhou.
Lourenço do Rosário considerou que o risco de colapso que os sistemas de saúde de todo o mundo enfrentam devido à pandemia da covid-19 deve servir de lição para as elites africanas.
Lourenço do Rosário é atualmente presidente do Fórum Nacional do Mecanismo Africano de Revisão de Pares (MARP), plataforma da sociedade civil criada por iniciativa da União Africana (UA), para uma avaliação independente do nível de desenvolvimento económico, social e democrático de cada país membro da organização.
Moçambique tem oficialmente 39 casos positivos de covid-19.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 174 mil mortos e infetou mais de 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 567 mil doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.