SAÚDE QUE SE VÊ

Covid-19: Ministro da Saúde brasileiro diz que foi demitido por Jair Bolsonaro

LUSA
16-04-2020 20:52h

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, exonerou hoje o seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no meio da pandemia provocada pelo novo coronavírus, após várias semanas de confronto entre ambos em relação ao isolamento como medida preventiva.

"Acabo de ouvir do Presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada de ser gerente do nosso SUS [Sistema Único de Saúde], de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planear o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar", confirmou Mandetta na rede social Twitter.

O agora ex-governante, que é também médico, concluiu: "Agradeço a toda a equipa que esteve comigo no Ministério da Saúde e desejo êxito ao meu sucessor no cargo de ministro da Saúde. Rogo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida que abençoem muito o nosso país".

Em conferência de imprensa após anunciar a sua saída do Governo, Mandetta garantiu que a equipa por ele montada e empossada em 2019 ajudará na transição para o novo governante, para evitar uma rutura na política contra a pandemia de covid-19.

"Eu deixo este ministério, mas sei que deixo a melhor equipa. Ajudem o próximo ministro como me ajudaram a mim. (...) A ciência é a luz e é através dela que vamos sair disto", afirmou Mandetta aos jornalistas.

Após agradecer a cada um dos seus secretários e assessores, Mandetta pediu às equipas: “Não tenham medo. Não façam um milímetro diferente do que vocês sabem fazer. Eu deixo este Ministério da Saúde com muita gratidão ao Presidente por ter-me nomeado e ter permitido que eu nomeasse cada um de vocês”, afirmou.

A exoneração vem confirmar o desencontro entre Mandetta e Bolsonaro, que se intensificou nas últimas semanas, com o ministro da Saúde a reforçar, diariamente, a importância do isolamento social para travar a disseminação do novo coronavírus, enquanto o Presidente defende precisamente o contrário, chegando a sair para as ruas, para socializar com apoiantes.

Jair Bolsonaro já tinha sido questionado se equacionava demitir Mandetta, indicando sempre que este não era o momento ideal, devido ao problema que a área da Saúde enfrenta em relação ao novo coronavírus, mas ressalvando que qualquer um dos seus ministros pode ser afastado.

No início do mês, o chefe de Estado chegou a afirmar, sem citar nomes, que "algumas pessoas" do seu Governo "de repente viraram estrelas e falam pelos cotovelos", acrescentando que não teria medo nem "pavor" de usar "a caneta" contra eles.

“Já se sabe que nós nos estamos a 'bicar' há algum tempo. (...) O Mandetta quer muito fazer valer a verdade dele. Pode ser que ele esteja certo, mas está a faltar-lhe humildade", disse Jair Bolsonaro em entrevista à rádio Jovem Pan, após ser questionado sobre o facto de o ministro da Saúde ter apoiado publicamente o isolamento social.

Na frente do Ministério da Saúde há um ano e quatro meses, Mandetta, tinha 76% de aprovação na condução da crise do novo coronavírus, mais do dobro da taxa atingida pelo Presidente do país, que obteve 33%, segundo uma sondagem divulgada no início no mês.

Mandetta era deputado em final de mandato, não tentando a reeleição em 2018, no mesmo ano em que foi convidado por Bolsonaro para integrar o seu executivo.

O Brasil ultrapassou na quarta-feira a barreira dos três mil novos casos diários do novo coronavírus, registando o número recorde de 3.058 infetados e 204 mortos nas últimas 24 horas, informou o executivo.

A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 141 mil mortos e infetou mais de 2,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 465 mil doentes foram considerados curados.

MAIS NOTÍCIAS