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Covid-19: Se há rotina que não pode mudar é a do sono

CANAL S+ / LP
16-04-2020 12:27h

A atual pandemia trouxe, à grande maioria da população, um grande desafio: saber lidar com a mudança repentina das rotinas. Há uma inevitável e excessiva exposição a dispositivos móveis e a ansiedade chega sem pedir licença. No entanto, e no meio de todo este turbilhão, o padrão regular do sono não pode nem deve mudar.

Uma função essencial e básica para o bem-estar

Ana Rita Álvaro, investigadora do Centro de Neurociências da Universidade de Coimbra (CNC), explica-nos o impacto que o isolamento social pode trazer para o sono.

“Se não dormirmos estamos a comprometer o nosso sistema imunitário e com isso a tornamo-nos mais frágeis e mais suscetíveis a poder contrair uma doença, quer ela seja a Covid-19 ou qualquer outra.”, realça a investigadora.

 

Olhar para o sono como uma prioridade

A população em geral deve fazer os possíveis para manter as rotinas semelhantes às que tinha anteriormente, como levantar e deitar à hora habitual. A alimentação saudável e equilibrada e a prática de exercício físico também entram na equação para manter um padrão regular do sono.

Para Ana Rita Álvaro a questão das novas tecnologias é um “problema grande, no entanto, “seja agora ou fora desta situação mais atípica, o que realmente é desaconselhado é o excesso de utilização das novas tecnologias sobretudo à noite.”, conclui. O nosso sono é regulado por várias componentes, sendo uma delas a melatonina, uma hormona que só começa a ser libertada quando existe uma redução da luz solar. Os ecrãs de telemóveis, tabletes e computadores têm uma luz tão forte que imitam esta luz, o que faz com que a necessidade que se sente de dormir fique comprometida.

Por outro lado, de manhã, é necessário ter uma exposição solar adequada para que fique ativo e, para isso, é necessário trocar a libertação da melatonina por outra hormona, a cortisol. Para receber uma dose extra de força e energia, fica o conselho: Aprecie e aproveite um pouco do sol que entra pela janela ou varanda da casa, em tempos de isolamento social.

Atualmente estão a surgir novos casos de insónias e no caso das pessoas que já sofriam deste distúrbio, veem agora a sua situação mais agravada, realça.

 

A ansiedade

A ansiedade traz também algum desequilíbrio e o ideal é tentar “não expor os problemas à hora de deitar”, avança a investigadora. Para pessoas mais ansiosas a solução pode passar por “não ver demasiadas notícias e ir a fontes fidedignas, para tentar filtrar o mais possível a informação e assim não gerar uma ansiedade excessiva.”, conclui Ana Rita Álvaro.

Impacto a curto e médio prazo 

Já diz o ditado que “Dormir é meio sustento” e a atual falta de descanso, poderá semear os problemas de saúde de amanhã. Tal como revela a investigadora, “quando sairmos desta situação, para além de levarmos algum tempo a voltar a readquirir o ritmo, as pessoas que já venham com uma situação mais debilitada, vão ou poderão a vir a desenvolver algumas outras doenças que estão associadas ao enfraquecimento do sistema imunitário, por privação do sono. Sem um ritmo de sono saudável, o aparecimento de outras doenças do foro psicológico e psiquiátrico ou doenças metabólicas, como a obesidade e a diabetes, podem ser uma realidade, realça.

 

E os profissionais de saúde?

Todos aqueles que combatem este vírus, na linha da frente, estão com uma “carga emocional muito grande, uma carga horária e de pressão enorme (…) e é natural que exista alguma situação de excesso de stress”. No entanto “deve ser possível tentarem cumprir as horas de descanso (…) a curto prazo há todo este pico de stress que é evidente (…) mas a longo prazo isto pode levar a uma desregulação muito grande”, conclui.

Ana Rita Álvaro apela para que as pessoas pensem que ”não é por acaso que devemos dormir 1/3 das nossas vidas. É porque, de facto, o sono é essencial a todos nós e se não dormirmos não vamos ser pessoas saudáveis”. As crianças, dependendo das faixas etárias, têm mais necessidade de dormir do que os adultos que devem dormir oito horas, não menos de sete e não mais de nove horas.

 

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