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Covid-19: Crise impede Gradiva de publicar autobiografia de Woody Allen

LUSA
13-04-2020 18:35h

A editora Gradiva esteve para publicar em Portugal a autobiografia de Woody Allen, “Apropos of Nothing”, mas o montante de direitos pedidos inviabilizou esta possibilidade, pois todos os recursos são para pagar salários, nesta época de crise pandémica.

A biografia de Woody Allen foi publicada em março nos Estados Unidos pela Arcade Publishing, depois de o grupo editorial Hachette ter aceitado publicá-la e a seguir ter recuado, pressionado por protestos dos funcionários, devido às acusações de abuso sexual à sua filha adotiva Dylan Farrow, de que é alvo, por parte da própria, da ex-mulher, Mia Farrow, e do filho de ambos, Ronan Farrow.

Em Portugal, a hipótese de publicar “Apropos of Nothing” (“A propósito de nada”, em tradução livre) surgiu pela editora Gradiva, mas esta, tal como a Hachette, acabou por recuar, só que por outros motivos: gestão financeira em tempos de crise, causada pela pandemia covid-19, que obrigou ao encerramento de livrarias e à quase total paralisação do mercado editorial, por tempo indeterminado, como disse à Lusa o editor.

“Pudemos publicá-la, queríamos editá-la, sabemos que será um grande êxito de vendas, mas o montante de direitos que pedem não os queremos pagar. Seria irresponsável, num momento em que os recursos que, felizmente, temos devem ser empregues para garantir, não prevemos até quando, os salários à equipa admirável que fez e continuará a fazer a Gradiva, uma editora livre e plural”, afirmou Guilherme Valente.

Numa altura de contenção no mercado livreiro, a editora publica este mês um único livro, “por já estar pronto e muito especialmente por se tratar do livro que é ‘Cosmos – Mundos Possíveis’, de Ann Druyan”, explicou o editor.

A autora deste livro é também coautora, com o seu falecido marido, o astrónomo e escritor Carl Sagan, do clássico “Cosmos”, publicado também pela Gradiva na década de 1980, e reeditado em maio do ano passado.

Nesta obra, que continua a aventura através de 14 mil milhões de anos de evolução cósmica, Ann Druyan “prossegue e sublinha a  mensagem de confiança nos seres humanos e na ciência, hoje mais atual do que nunca”, sublinha o editor.

Na mesma linha da atualidade, a Relógio d’Água publica este mês a obra de Paolo Giordano “Frente ao Contágio”, numa iniciativa conjunta com o jornal Público, que tratará da distribuição, disse à Lusa o editor, Francisco Vale.

Trata-se de um ensaio sobre a pandemia de Covid-19, escrito pelo físico italiano Paolo Giordano, autor do livro "A Solidão dos Números Primos", que reflete sobre as transformações sociais e culturais que a epidemia pode causar.

Este ensaio desenvolve um artigo publicado no Corriere della Sera, que teve um importante impacto na sociedade italiana, acrescentou, sublinhando que mais do que a própria epidemia, a obra ocupa-se sobretudo das transformações sociais e culturais que esta pode causar.

“A epidemia do coronavírus é candidata ao título de emergência sanitária mais importante da nossa época. Não a primeira, não a última e talvez nem sequer a mais horrível. É provável que, quando terminar, não tenha produzido mais vítimas do que muitas outras, mas três meses passados sobre o seu aparecimento obteve já um primeiro lugar: o SARS-CoV-2 é o primeiro novo vírus a manifestar-se tão velozmente à escala global”, segundo a sinopse do livro.

As várias chancelas do grupo Penguin Random House têm apostado nos eventos 'online', entre os quais se incluem lançamentos de livros que não tiveram oportunidade de acontecer no formato habitual, como é o caso de “Sobre o Autoritarismo Brasileiro”, de Lilia Schwartz (Objectiva), “Apóstata”, de António Madaleno (Arena) e de “História Social Contemporânea” (Objectiva).

O grupo editorial tem feito também a antecipação de alguns lançamentos, enquanto os livros não são postos à venda, como é o caso do próximo livro do João Tordo, “Manual de sobrevivência de um escritor”, sobre o qual o autor tem falado, através de vídeos semanais que publica nas páginas de Facebook dele e da Companhia das Letras, e nos quais vai revelando temas do seu livro.

A Editorial Presença vai publicar ‘online’ “uma novidade”, "A Minha Mãe", de Roger Hargreaves (no âmbito dos livros infantis), relançar os livros "Estação Onze", de Emily ST. John Mandel, e "Febre", de Nick Louth, bem como a série “Harry Potter”, de J. K. Rowling, com as imagens de capa da editora Bloomsbury, pela primeira vez em Portugal (os sete volumes).

O grupo Almedina, para além dos livros técnicos, publica este mês “Noughts & Crosses”, de Malorie Blackman, na chancela Minotauro, o primeiro livro da trilogia assinada pela autora britânica, com uma extensa e premiada obra para o público jovem adulto, que já deu origem a adaptações televisivas.

O grupo editorial Leya lançou “Margarida Espantada”, o novo romance do Rodrigo Guedes de Carvalho, só em formato digital (ebook e audiobook), e reeditou alguns títulos que ainda são pedidos como é o caso de “Mais Vida, Mais Saúde, Mais Tempo”, de Manuel Pinto Coelho.

A Bertrand não tem qualquer novidade prevista para este mês, mas destaca que fez uma reimpressão da “Nova Gramática do Latim” (Quetzal), de Frederico Lourenço, dado ter notado “uma boa procura, resultante das aulas que [Frederico Lourenço] tem dado na Internet” (na sua página de Facebook).

Também a Tinta-da-China diz que não vai ter nenhum lançamento neste mês, já que tudo “foi adiado” sem “data para voltar a publicar”, mas destaca o "lançamento" do seu novo 'site'”.

O grupo 2020, detentor de chancelas como a Elsinore e Cavalo de Ferro, não vai lançar “nem novidades, nem reedições até que o mercado normalize”, tal como a editora Guerra e Paz, que não tem “qualquer previsão de novidades até meados de maio”.

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