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APAV: “Com o isolamento, o agressor está numa espécie de lua-de-mel. Controla tudo”

Canal S+ / TB
10-04-2020 17:48h

A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima está preocupada com os efeitos que o “excesso de rotinas” que neste momento se regista no seio dos casais e das famílias portuguesas pode ter em situações já instaladas de violência doméstica, e também em relações que até aqui eram saudáveis.
Daniel Cotrim, psicólogo e representante desta entidade, antecipa ao Canal S+ um possível aumento do número de denúncias já na próxima semana, as estratégias que as vítimas devem adotar e as respostas que continuam no terreno.

O isolamento forçado a que grande parte dos portugueses está votado neste momento abre espaço a maiores tensões no seio familiar e, com isso, aumenta a preocupação do Governo e das entidades que se ocupam das situações de violência doméstica.

Os dados da APAV referentes ao número de pedidos de ajuda entre janeiro e o final de março mostram um decréscimo de 15 por cento face ao mesmo período de 2019. Para Daniel Cotrim, estes são indicadores “enganadores” e que refletem a preponderância que, sobretudo na fase inicial da pandemia, o novo coronavírus – e tudo o que lhe está associado – passou a ter na vida das pessoas. Tudo o resto passou para segundo plano, incluindo as situações de violência doméstica.

Agora, de acordo com o psicólogo e representante da APAV, podemos estar a entrar numa nova fase e muito perto de assistir ao pico do número de denúncias de casos de violência doméstica.

O contexto atual de confinamento não torna mais fácil um pedido de ajuda por parte de uma vítima de violência doméstica. Muito pelo contrário. O que pode então ser feito para tentar contornar este obstáculo? Que estratégias para escapar ao jugo do agressor?

Para além do suporte mais próximo de familiares ou vizinhos, as vítimas continuam a ter ao seu dispor – não obstante o contexto particular que atravessamos – as estruturas de apoio que já existiam, que se mantêm no terreno e agora com instrumentos reforçados, como é o caso dos Centros Temporários de Acolhimento de Emergência.

A APAV acredita que a privação social e o excesso de rotinas poderão levar à ocorrência de novos casos de violência doméstica entre casais e até de pais para filhos.

De acordo com Daniel Cotrim, há ainda outra perversidade na fase que estamos a viver. O isolamento que funciona como combustível para o agressor, alimentando o poder que procura exercer sobre a vítima. Dia após dia, tudo está sob o seu controlo.

Tudo isto leva a que entidades como a APAV estejam particularmente preocupadas com o momento de regresso à normalidade, que poderá funcionar para o agressor como um duro acordar para a realidade e gerar níveis maiores de frustração.

Para quem precisar de ajuda perante uma situação de violência doméstica, são vários os serviços disponíveis. O Governo disponibiliza a linha telefónica 800 20 21 48 e o 3060 para o envio de SMS, a APAV tem também a sua linha através do 116 006, para além da habitual linha de emergência social (144) e o próprio 112. Daniel Cotrim diz que todos estes contactos são úteis e que é indiferente onde recai o pedido de ajuda. O importante mesmo é fazê-lo.

 

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