O Zoo de Lourosa, que funciona em Santa Maria da Feira e é o único parque ornitológico do país, revelou hoje ter readaptado procedimentos para, mesmo sem bilheteira, alimentar 500 aves, manter 80 habitats e cuidar de crias bebés.
Gerido pelo município, no distrito de Aveiro, o equipamento está encerrado ao público desde 12 de março, no seguimento da ordem camarária decretando o fecho de vários espaços municipais para conter a disseminação da covid-19.
As receitas de bilheteira são agora inexistentes, pelo que, enquanto durar o estado de emergência nacional, o Zoo depende apenas do subsídio de 23.750 euros mensais da Câmara para gerir uma equipa de 11 funcionários e responder às necessidades de 500 aves de 150 espécies de diferentes origens geográficas.
"O nosso compromisso para com o bem-estar das aves continua a ser a nossa principal prioridade. Elas necessitam de cuidados diários, como alimentação, limpeza e assistência veterinária, e, nesta fase, tratadores de animais, médico veterinário e equipa de higiene dão o seu máximo, presencialmente, para manter as aves e o espaço nas melhores condições", disse à Lusa a diretora do Zoo, Salomé Tavares.
Entre os procedimentos reajustados para minimizar o risco de contágio pelo novo coronavírus entre o pessoal da casa incluem-se "o desdobramento e rotação da equipa de trabalho, bem como o reforço das ações de limpeza e desinfeção", sempre com recurso a materiais seguros para os animais.
Já ao nível nutricional, "os protocolos alimentares continuam a ser cumpridos de modo muito rigoroso, para assegurar que nada falta às 500 aves do parque", muitas das quais em risco de extinção.
"Além de ração, peixe e carne, nessa alimentação são gastas cerca de 2,5 toneladas de frutas e legumes mensalmente, resultando esses vegetais da doação de hipermercados da região", realçou a bióloga.
Ainda assim, a responsável admite alguma preocupação quanto aos efeitos da crise gerada pela pandemia, até ao nível da continuidade desses donativos alimentares face às crescentes dificuldades da economia nacional e mundial, mas espera que "esta seja uma situação transitória e que, brevemente, o Zoo possa regressar à normalidade das suas atividades".
Salomé Tavares notou, aliás, que ainda não conhece qualquer caso em que as organizações internacionais do setor tenham registado covid-19 em aves, pelo que acredita que o ambiente próprio do Zoo se revelará particularmente agradável para os visitantes depois de levantado o estado de emergência nacional e ultrapassadas as necessidades de isolamento e distanciamento social.
Essa perspetiva prende-se com o facto de o público habitual do Zoo de Lourosa ainda não ter tido oportunidade de conhecer algumas das suas aves recém-nascidas. "É que a vida no parque continua e, neste momento, já temos várias aves no ninho", referiu a bióloga.
É o caso da coruja de lunetas (da espécie Pulsatrix perspicillata), do faisão de Edwards (Lophura edwardsii), do pombo imperador (Ducula bicolor), da ave martelo (Scorpus umbreta) e das primeiras crias nascidas em Lourosa de catatua Galah (Eolophus roseicapillus) e ganso do Egipto (Alopochen aegyptiacus).
Essas e outras aves continuam disponíveis para apadrinhamento por cidadãos particulares, empresas e outras instituições, pelo que Salomé Tavares apela a que "quem puder se disponibilize para acarinhar e ajudar à preservação destas espécies", o que permitirá igualmente uma maior divulgação dos esforços científicos em curso no âmbito do seu estado de conservação.
No concelho de Santa Maria da Feira, que conta com mais de 139.000 habitantes numa área de 213,4 quilómetros quadrados, a Câmara Municipal registava na quinta-feira às 20:00 um total de seis óbitos e 307 infetados por covid-19.
A pandemia do novo coronavírus já matou 96.340 pessoas em todo o mundo e infetou quase 1,6 milhões em 193 países e territórios desde o início da pandemia, em dezembro passado, na China.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Portugal regista hoje 435 mortos associados à covid-19, mais 26 do que na quinta-feira, e 15.472 infetados (mais 1.516), indica o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS).