O Pessoas-Animais-Natureza (PAN) considerou hoje que “não se devem realizar” as tradicionais cerimónias do 25 de Abril e 10 de junho “como até aqui”, devido à covid-19, rejeitando o “receio” de que, por isso, “Abril não esteja vivo”.
“Parece-nos que não se devem realizar as cerimónias do 25 do abril” e também do “10 de junho da forma como até aqui temos realizado”, disse à Lusa a líder parlamentar do PAN, argumentando que este é “um tempo absolutamente extraordinário, excecional” provocado pela pandemia de covid-19.
Na ótica do partido, é fundamental “ficar em casa” e “não deve haver, de facto, cerimónias que, contrariamente às recomendações da Organização Mundial de Saúde e da Direção-Geral da Saúde congreguem um elevado número de pessoas”.
“Há outras formas de celebrarmos o 25 de Abril, temos hoje felizmente meios tecnológicos ao nosso dispor, que nos permitem reunir por videoconferência e assinalar esta data. A própria Associação 25 de Abril já veio lançar o desafio para que as pessoas cantem à janela a 'Grândola Vila Morena', portanto também poderemos fazer isso como forma de evocar e marcar o 25 de Abril com o mesmo espírito de união, de solidariedade e de respeito”, indicou a deputada.
Para Inês Sousa Real, “não deve ser uma data meramente evocativa”, uma vez que “o 25 de Abril são valores que se devem renovar diariamente na democracia e que devem encontrar expressão noutro tipo de ações que não apenas as cerimónias oficiais desta data”.
“Não temos de ter receio, pelo facto de não fazermos a habitual e tradicional cerimónia, de que Abril não esteja vivo, muito pelo contrário, aquilo que tem sido expresso em termos de manifestações de solidariedade na nossa sociedade só mostram que Abril está bem vivo e vamos todos em comunidade ultrapassar esta crise”, frisou.
Exemplo disso é o “espírito de união até entre governantes e opositores”, que “emerge dos valores de Abril” porque “uma democracia que, mesmo num estado de emergência sabe proteger os seus, sabe autorregular-se, é uma democracia que está viva, uma democracia que honra os valores de Abril”.
“Estarmos a fazer cerimónias desnecessariamente e a praticar atos que possam ser de alguma forma desnecessários ou que ponham em causa esta segurança e distanciamento social, que é fundamental nesta fase, não é isso que faz reforçar em nós o sentido de Abril”, advogou Inês Sousa Real.
A líder do grupo parlamentar do PAN assinalou igualmente que “neste dia vai haver muitos profissionais que não podem celebrar o 25 de Abril porque vão estar na primeira linha de combate contra o inimigo comum”, pelo que “também eles devem merecer” respeito e a “adoção de medidas de prevenção que são essenciais nesta fase”.
A Assembleia da República tem agendada para quarta-feira, 01 de abril, uma conferência de líderes, órgão em que se discutem os agendamentos dos plenários.
Ainda no início desta crise causada pela pandemia, que já fez 76 mortos em Portugal, o presidente do parlamento admitiu, em 16 de março, que poderia haver comemorações, afirmando que seria prematuro falar nos moldes em que poderiam decorrer.
"Ainda é cedo, certamente haverá comemorações do 25 de Abril. Neste momento, não se sabe como nem onde, mas certamente haverá", disse.
A edição 'on-line' do Expresso noticiou que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e Ferro Rodrigues já falaram do assunto e são favoráveis a uma comemoração, em versão reduzida, da revolução que derrubou a ditadura em 1974.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 540 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 25 mil.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Em Portugal, registaram-se 76 mortes, mais 16 do que na véspera (+26,7%), e 4.268 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, que identificou 724 novos casos em relação a quinta-feira (+20,4%).