SAÚDE QUE SE VÊ

Covid-19: Costa afasta para já requisição dos serviços de saúde privados defendida por BE

LUSA
24-03-2020 15:54h

O primeiro-ministro, António Costa, afastou hoje, para já, uma requisição civil dos serviços de saúde privados, embora sem excluir no futuro essa possibilidade, defendida pela coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins.

"Até agora não se colocou a necessidade de proceder a nenhuma requisição civil. A articulação tem estado a decorrer de uma forma harmoniosa. Se for necessário requerer à requisição civil, iremos recorrer à requisição civil", afirmou António Costa, em resposta a Catarina Martins, no debate quinzenal no parlamento.

Na abertura deste debate quinzenal, a coordenadora do BE perguntou ao primeiro-ministro se "esta não seria a altura de fazer requisição civil aos privados para garantir todos os meios, com a articulação e a hierarquia necessária, com a continuidade de cuidados e com o fornecimento de equipamentos que era necessário", argumentando que a resposta ao surto de covid-19 "pode ser para lá da capacidade instalada no Serviço Nacional de Saúde (SNS)".

"Sabendo nós que a pressão sobre o SNS é tanta, sabendo nós que essa requisição é provável, não é melhor fazê-la mais cedo do que mais tarde, porque quando o SNS estiver em rutura ou se estiver em rutura será muito mais difícil fazer a integração destes serviços?", questionou Catarina Martins.

O primeiro-ministro afastou para já essa medida, respondendo que tem estado a ser articulada com o setor privado, assim como com o setor social e com as Forças Armadas, "a capacidade integrada em função daquilo que são piores cenários de evolução" da covid-19, e que essa articulação tem decorrido "uma forma harmoniosa".

A coordenadora do BE criticou a forma "como os hospitais privados se têm portado", dando exemplos como "a CUF e a forma como fechou algumas urgências" ou "a irresponsabilidade no hospital da SAMS", e mencionou também que há laboratórios privados "a venderem testes ao Estado por 100 euros quando têm um custo de 30 euros".

Segundo Catarina Martins, "este podia ser o momento de o Governo ter uma intervenção sobre a capacidade de produção em Portugal para garantir que não faltam equipamentos ou outros meios que sejam necessários na saúde e nas outras áreas".

Por outro lado, a coordenadora do BE pediu ao Governo medidas para proteger o emprego de quem tem contratos a prazo, referindo que "a TAP despediu 100 precários e ameaça que outros 700 contratos podem acabar" e que "a Fnac despediu os trabalhadores em período experimental", entre outros casos.

"Os despedimentos coletivos são uma gota no oceano, e se nós não travamos o despedimento de trabalhadores precários, contratos a prazo temporários, nós estamos a sacrificar a geração mais jovem", sustentou.

A coordenadora do BE quis ainda saber se o apoio que está a ser dado aos pais que estão os filhos em casa devido ao encerramento das escolas será prolongado abrangendo as férias da Páscoa e se o Governo não pondera estendê-lo a quem cuida de idosos ou pessoas com deficiência.

"Nós criámos uma medida extraordinária para uma situação que foi inesperada, porque não era a situação regra. Vamos mantê-la nas férias da Páscoa para as creches porque as creches deveriam continuar a funcionar e não vão funcionar, mas não vamos mantê-la relativamente àquela situação que era previsível e que não foi por isso inesperada", começou por dizer o primeiro-ministro.

Contudo, em seguida, acrescentou: "Temos de ter em conta que provavelmente no dia 09 de abril a decisão que estaremos a tomar é prolongar esta situação e esta medida muito para além das férias da Páscoa".

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 360 mil pessoas em todo o mundo, das quais cerca de 17.000 morreram.

Em Portugal, há 29 mortes e 2.362 infeções confirmadas, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde (DGS).

MAIS NOTÍCIAS