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Covid-19: Justiça brasileira nega pedido para suspender cultos evangélicos

LUSA
21-03-2020 00:13h

A Justiça do estado brasileiro do Rio de Janeiro negou na quinta-feira o pedido do Ministério Público para suspender as sessões da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, comandada pelo pastor evangélico Silas Malafaia.

Na sua decisão, uma das justificações usadas pelo juiz Marcello de Sá Baptista foi de que o direito à participação em cultos religiosos não foi afastado, até ao momento, pelo governo do estado do Rio de Janeiro, nos decretos já emitidos face à pandemia do novo coronavírus.

Como não foi editado nenhum decreto do Executivo ou lei do Legislativo afastando, por agora, o direito à participação em cultos religiosos, o magistrado defende que não cabe ao Judiciário “fazer integrações pelo método analógico, quando não há lacuna na norma”.

O juiz Sá Baptista indicou que, segundo o artigo quinto da Constituição Federal, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

“Vivemos momentos de factos excecionais, que desafiam o esforço coletivo e pessoal, para conter a doença e inibir mortes. Mesmo para estes momentos, o legislador traça a forma e limites de atuação dos agentes públicos. Não podemos fazer e agir, como melhor entendemos, ainda que o objetivo seja beneficiar a coletividade. Num Estado Democrático de Direito, o poder é limitado e vinculado estritamente aos preceitos legais vigorantes”, diz a decisão.

"Não pode o Poder Judiciário, avocar a condição de legislador e regulamentar uma atividade, em atrito com as normas até agora traçadas pelos órgãos gestores da crise existente", acrescenta.

O juiz evidenciou que os cidadãos deveriam seguir as recomendações para conter a transmissão do coronavírus, frisando, contudo, que "não se pode perder de vista o que é uma recomendação e um dever imposto ao cidadão".

Em causa está uma ação civil pública movida, na quinta-feira, pelo Ministério Público do Rio de Janeiro contra o estado e prefeitura do Rio de Janeiro, a Assembleia de Deus Vitória em Cristo e contra o pastor Silas Malafaia, para que sejam suspensos, em todo o território estadual, os cultos promovidos pela entidade religiosa, sob pena de multa diária de 10 mil reais (1.800 euros).

A ação foi movida pelo Ministério Público após o líder evangélico Malafaia afirmar que não iria suspender os cultos, contrariando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde brasileiro.

"A nossa igreja aqui vai ficar de portas abertas. Se amanhã, os governos disserem que vai impedir transporte público, fechar mercados, fechar todas as lojas, a igreja tem que ser o último reduto de esperança para o povo (...). Vamos ser racionais. Essa conta não vai cair em cima da gente. Isso é medida hiper extremada", defendeu Malafaia.

Segundo informações do jornal Folha de S.Paulo, também o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), divulgou um vídeo na aplicação Whatsapp em que diz que o coronavírus é inofensivo e que Satanás e a imprensa estão a exagerar e a promover o medo no país.

O Brasil, com uma população de 210 milhões de pessoas, registou, até quinta-feira, seis mortos e 621 casos confirmados de infeção pelo novo coronavírus, segundo dados do governo brasileiro.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, infetou mais de 265 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 11.100 morreram.

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