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Covid-19: Filho do Presidente do Brasil nega ter ofendido povo chinês

19-03-2020 23:26h

O deputado e filho do Presidente brasileiro, Eduardo Bolsonaro, que iniciou na quarta-feira uma crise diplomática com a China, negou hoje ter ofendido o povo chinês, acrescentando que apenas criticou a atuação de Pequim na prevenção do coronavírus.

"Jamais ofendi o povo chinês, tal interpretação é totalmente descabida. Esclareço que compartilhei uma publicação que critica a atuação do Governo chinês na prevenção da pandemia, principalmente no compartilhamento de informações que teriam sido úteis na prevenção em escala mundial", disse Eduardo Bolsonaro em comunicado.

"A mutação genética de um vírus pode nascer em qualquer país, mas é obrigação das autoridades deste informar a sociedade e tomar as melhores medidas para conter seu avanço (e não agir mantendo sigilo da real condição). As vidas das pessoas devem vir em primeiro lugar, não os interesses do Estado", declarou o filho de Jair Bolsonaro, chefe de Estado do Brasil.

Em causa está um embaraço diplomático criado na quarta-feira, quando o deputado Eduardo Bolsonaro responsabilizou a China pela pandemia do novo coronavírus, numa mensagem publicada na rede social Twitter que foi criticada pelas autoridades chinesas.

"Aqueles que assistiram [à série de televisão] 'Chernobyl' entenderão o que aconteceu. Substitua a usina [central] nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pelos chineses. (...) Uma ditadura preferia esconder algo sério do que expô-la com desgaste, mas isso salvaria inúmeras vidas. (...) A culpa é da China e a liberdade seria a solução", escreveu Eduardo Bolsonaro no Twitter.

Ao tomar conhecimento da publicação, o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, expressou repúdio e indignação da China pelas declarações de Eduardo Bolsonaro, e exigiu um pedido de desculpas em mensagens publicadas na sua conta no Twitter.

A embaixada do país asiático também respondeu às declarações do filho do Presidente brasileiro, considerando que foi "extremamente irresponsável" e afirmando que as suas palavras "pareciam familiares", em referência ao Presidente norte-americano, Donald Trump, muito apreciado pela família Bolsonaro, e que se tem referido à Covid-19 como "o vírus chinês".

"As suas palavras são extremamente irresponsáveis e parecem familiares. Elas continuam sendo uma imitação dos seus queridos amigos. Ao retornar de Miami [onde os Presidentes Trump e Bolsonaro se encontraram recentemente], ele infelizmente contraiu um vírus mental que está a infetar as amizades entre os nossos povos", escreveu a embaixada da China no Brasil na sua conta oficial no Twitter.

Eduardo Bolsonaro também negou hoje, em comunicado, que o seu comportamento tenha "o mínimo traço de xenofobia ou algo similar", depois de chamar a Covid-19 de "vírus chinês".

"Na comunidade médica, é bem comum que doenças sejam batizadas em referência à localidade de origem da mazela. Por exemplo, a gripe espanhola traz no seu nome o país na qual foi originada; o vírus Ébola faz referência ao rio do Congo do mesmo nome", defendeu o deputado.

"Jamais tive a pretensão de falar pelo Governo brasileiro, mas devido a toda essa repercussão, despido de qualquer vaidade ou ego, deixo aqui cristalina que a minha intenção, mais uma vez, nunca foi a de ofender o povo chinês ou de ferir o bom relacionamento existente entre os nossos países", concluiu Eduardo Bolsonaro, que chegou a ser equacionado para ser embaixador do Brasil em Washington.

Ao início da tarde de hoje, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo, demarcou-se das declarações do filho de Bolsonaro contra Pequim, mas pediu que o embaixador chinês se retrate de mensagens que classificou de ofensivas.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, infetou mais de 220 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 8.900 morreram.

Depois de surgir na China, em dezembro, a Covid-19 espalhou-se já por 176 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma situação de pandemia.

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