A empresa de confeções Dielmar acordou com os cerca de 400 trabalhadores cumprir um período de dois dias de férias, como forma de prevenção no âmbito do combate à pandemia do Covid-19, disse hoje a sua administradora.
"Temos como primeira e principal obrigação zelar pela saúde dos nossos colaboradores e logo em seguida zelar pela saúde da empresa, pois esperamos que em breve possamos laborar todos, ainda com mais entusiasmo, para podermos contribuir para que a normalidade seja reposta e possamos ajudar o nosso país a retomar uma via de desenvolvimento, com o apoio de todos", explicou à Lusa Ana Paula Rafael.
Segundo a CEO da Dielmar, com sede em Alcains, concelho de Castelo Branco, estes dois dias de férias (terça-feira e hoje) servem para ver como é que a situação evolui sem criar risco para estas centenas de pessoas, maioritariamente mulheres.
"Os trabalhadores foram informados e aconselhados pela empresa sobre as formas de se protegerem e aos seus familiares", disse.
As razões que estiveram na base desta decisão passaram pela avaliação de um conjunto cumulativo de situações que colocaram a empresa em situação crítica.
A primeira tem a ver com a saúde dos colaboradores da empresa: "Uma vez que já não dispomos, desde segunda-feira, de materiais de prevenção da doença, esgotados no mercado, temos de atentar que neste setor as pessoas encontram-se em linha de produção, cerca de 200, e a uma distância de muitas vezes de menos de um metro".
Também do ponto de vista da atividade, a empresa viu suspender praticamente todos os fornecimentos de matéria-prima de Itália, há já cerca de duas semanas.
"A maioria dos fornecedores encerraram ou reduziram a sua atividade ao mínimo, mas, desde sexta-feira, vimos suspensas todas as encomendas de praticamente todos os clientes que, um por um, foram comunicando via ‘email' o encerramento das suas lojas, por iniciativa própria, como foi o caso de Portugal, em Espanha e França e um pouco por todo o mundo, por decreto dos próprios governos", frisou.
A empresa viu-se forçada a encerrar igualmente as lojas da marca Dielmar nos centros comerciais em Portugal, pelo facto de que todas as restantes lojas acabaram por fechar à sua volta.
A administração da empresa vai hoje reunir para decidir a estratégia a seguir, bem como as medidas que vão ser tomadas e decidir o que é possível e deve ser feito nos próximos tempos.
"Os governantes têm a obrigação de zelar por todos nós, sociedade civil, e nós temos a obrigação de zelar pelas nossas famílias e pelas nossas equipas. O Governo anuncia medidas de apoio que esperamos sejam assertivas, rápidas e vocacionadas para evitar, não apenas a continuação desta pandemia, mas que devem prever o futuro de todos, sobretudo dos setores industriais que aqui no interior terão que ser de novo os protagonistas que no futuro manterão o emprego e a tranquilidade social e que, como habitualmente, pagarão a fatura do reequilíbrio do país e das contas públicas", sustentou.
A CEO da Dielmar entende que, atualmente, as empresas paralisadas na sua atividade deverão ser rapidamente musculadas, com as medidas adequadas, para retomarem a responsabilidade social e económica que cabe às empresas.
"Ouvimos as medidas, mas vamos ver qual a rapidez da sua aplicação e quais as condições de acesso que, por vezes, não são fáceis de atingir", frisou.
Ana Paula Rafael realça que as empresas portuguesas têm estado a sobreviver, sem força e sem qualidade, num ambiente pouco amigável.
"Temos tipo pequenos apoios e sempre fora de horas. Deixo um apelo ao Governo para que faça agora as coisas a tempo e horas. É preferível ter coragem, tomar medidas, chamar os parceiros e compreender as realidades. Quem governa tem que saber como fazer, para que os escassos recursos obtenham o resultado necessário", sustentou.
Tece ainda críticas à ausência de comunicação dos autarcas, perante esta situação tão crítica, adicionada aos enormes problemas que já se vivem no interior.
"Espera-se que em tempos de guerra os generais se organizem nos meios e nas estratégias, e para com os escassos meios da região, combatermos todos juntos esta guerra. Desafio os autarcas e outras entidades do distrito de Castelo Branco a organizarem-se e a comunicarem às empresas e às populações o grau de preparação da região, para fazer face a uma situação com esta gravidade, pois a informação e a tranquilidade são fatores determinantes nestas situações”.
Também a articulação com o Ministério da Coesão Territorial é considerada essencial por Ana Paula Rafael.
"Este novo Ministério tem uma responsabilidade acrescida face ao interior. Desconhecemos qualquer articulação, qualquer medida ou sequer nos foi comunicada qualquer sugestão. Temos estado por nós próprios e os nossos colegas também cada um por si, na gestão de um problema que é de todos, de saúde publica", concluiu.
De acordo com o último boletim epidemiológico da pandemia da Covid-19 divulgado hoje, Portugal regista duas mortes de pessoas infetadas com o novo coronavírus.
O número de infetados pelo novo coronavírus subiu para 642, mais 194 do que os contabilizados na terça-feira, anunciou a Direção-Geral da Saúde (DGS).
De acordo com a informação divulgada sobre a situação epidemiológica de Covid-19 em Portugal, desde 01 de janeiro foram registados 5.067 casos suspeitos.
Segundo a DGS, há 351 (eram 323) casos a aguardar resultado laboratorial e três casos recuperados.