A queda da natalidade em França levou uma cidade do interior a decidir oferecer mil euros às grávidas que ali tenham bebés como forma de evitar o fecho da maternidade, denunciaram hoje quatro sindicatos médicos.
A situação nesta cidade, situada no centro do país, Saint-Amand-Montrond, reflete uma tendência geral em França de queda das taxas de natalidade.
Segundo o Instituto Nacional francês de Estatística e Estudos Económicos de França (INSEE, na sigla em francês), no ano passado nasceram apenas 660.800 bebés no país, o número mais baixo desde o final da II Guerra Mundial, sendo que 2024 foi o terceiro ano consecutivo de descida do número de nascimentos.
A legislação francesa determina o fecho das maternidades que não atinjam a meta de 300 partos por ano e Saint-Amand-Montrond (cuja área urbana tem 19.000 habitantes) prevê que em 2025 nasçam ali 226 bebés.
Para impulsionar a atividade, o presidente da câmara municipal, Emmanuel Riotte (membro do partido de direita Os Republicanos), propõe-se oferecer às mães que derem à luz na cidade um cartão-presente de 1.000 euros para gastar em lojas locais.
O responsável municipal espera, com isso, atrair de volta para a maternidade as pacientes que procuram atualmente hospitais maiores em Bourges, Montluçon ou Nevers.
“A escolha de uma maternidade não deve ser influenciada pela perspetiva de recompensa puramente financeira”, afirmam os quatro sindicatos médicos que denunciaram a situação: Snphare (anestesiologistas e intensivistas), Syngof (obstetras-ginecologistas), Snpeh (pediatras) e Samu Urgences de France (médicos de urgências).
“Quando uma maternidade está em risco de fechar, não é por razões económicas, mas sim por razões de segurança”, alegam.
Segundo os quatro sindicatos de médicos hospitalares, a baixa taxa de partos de Saint-Amand torna “impossível ter experiência suficiente para prevenir e gerir complicações potencialmente fatais, que geralmente envolvem várias disciplinas em simultâneo, exigindo que as decisões sejam tomadas em minutos”.
Os sindicatos defendem a transformação das pequenas maternidades “em centros perinatais locais de monitorização da gravidez e de cuidados pós-parto”, com partos centralizados em salas de parto de alta segurança.
A maternidade de Saint-Amand é uma das cerca de 20 em França que não cumprem o limite mínimo de 300 partos por ano estabelecido pela legislação.
Num relatório publicado em 2024, o Tribunal de Contas francês destacou que as unidades com menos de 1.000 partos por ano estavam a enfrentar “dificuldades crescentes em atrair e reter pessoal qualificado”.