Mais de metade das pessoas registadas em 2024 com VIH na Europa foram diagnosticadas tardiamente, pondo em causa a luta contra a Sida, alertou hoje o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC).
Os dados do Relatório Anual de Vigilância VIH/Sida, relativos a 2024, foram divulgados por esta agência da União Europeia e pelo Gabinete Regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Europa por ocasião do Dia Mundial da Luta Contra a Sida, que se assinala na segunda-feira.
Em Portugal, segundo um estudo da Direção-Geral da Saúde (DGS) divulgado na quarta-feira, foram registados o ano passado 997 casos de infeção por VIH, menos que em 2023, mas mais de metade (53,9%) dos diagnósticos ocorreram tardiamente, sobretudo em pessoas com 50 ou mais anos.
O relatório anual do ECDC mostra que a Europa está a falhar o teste e o tratamento precoce do VIH, indicando que, no ano passado, mais de metade (54%) dos diagnósticos foi feito demasiado tarde para que o doente pudesse ter o tratamento ideal.
“Esta falha grave nos testes, combinada com um número crescente de casos não diagnosticados, está a comprometer seriamente a meta de acabar com a SIDA como uma ameaça à saúde pública até 2030”, assinala um comunicado do ECDC de divulgação da análise.
Segundo o estudo, em 2024, foram realizados 105.922 diagnósticos de VIH em 49 dos 53 países que fazem parte da Região Europeia da OMS.
Embora os números gerais mostrem “uma ligeira diminuição” em comparação com 2023, indicam a continuação de lacunas nos testes e diagnósticos.
“A elevada proporção de diagnósticos tardios significa que muitas pessoas não estão a ter acesso ao tratamento antirretroviral e aos cuidados de saúde que salvam vidas atempadamente, o que aumenta o risco de desenvolver SIDA, o risco de morte e de transmissão do VIH”.
Considerando apenas os 30 países da UE e do Espaço Económico Europeu (EEE, mais a Islândia, Liechtenstein e Noruega), foram registados o ano passado 24.164 diagnósticos daquele vírus, o que representa uma taxa de 5,3 por cada 100.000 pessoas, o que representa uma diminuição de 14,5% face à taxa de 6,2 observada em 2015.
Nesta região, 48% dos diagnósticos foram feitos tardiamente e, ainda que o sexo entre homens continue a ser o modo de transmissão mais comum (48%), está a aumentar a transmissão heterossexual do vírus, que representou quase 46% dos diagnósticos registados.
A transmissão por via sexual foi referida em 97% dos casos diagnosticados em Portugal, onde predominou a transmissão heterossexual (52,5%), embora 60,6% dos novos diagnósticos em homens tenham ocorrido nos que tem sexo com homens.
"Na UE/EEE, quase metade de todos os diagnósticos são feitos tarde. Precisamos urgentemente de novas estratégias de testagem, de adotar testes comunitários e autotestes e garantir o encaminhamento rápido para tratamento. Só conseguiremos acabar com a SIDA se as pessoas souberem o seu estado”, afirmou a diretora do ECDC, Pamela Rendi-Wagner, citada no comunicado.
Na região europeia da OMS, a proporção de diagnósticos tardios é mais elevada entre os infetados por transmissão heterossexual (especialmente os homens) e os que consomem drogas injetáveis, sendo que quase um terço dos diagnosticados tinha nascido fora do país onde foi detetado o vírus.
Já na UE/EEE, os migrantes representaram mais de metade dos novos diagnósticos, o que evidencia a necessidade de serviços de prevenção e testagem “personalizados, acessíveis e culturalmente adequados”.
De acordo com a DGS, mais de metade dos novos casos (53,6%) registados em Portugal ocorreu em pessoas nascidas no estrangeiro.
“O número de pessoas que vivem com VIH não diagnosticado está a crescer, uma crise silenciosa que está a impulsionar a transmissão. Não estamos a fazer o suficiente para remover as barreiras mortais do estigma e da discriminação que impedem as pessoas de procurar um teste simples”, afirmou o diretor regional da OMS para a Europa, Hans Kluge, citado no comunicado.
Segundo as agências da UE e da ONU, se se agir rapidamente para eliminar a lacuna ao nível dos testes será possível que a Sida deixe de representar uma ameaça para a saúde pública em 2030.