O combate global ao VIH, vírus da imunodeficiência humana que causa a SIDA, está a colapsar por falta de financiamento, alertou hoje a ONU, adiantando que a situação deverá resultar em mais 3,3 milhões de pessoas infetadas até 2030.
A resposta global ao VIH está a sofrer “o seu maior revés das últimas décadas”, anunciou hoje a diretora executiva da agência ONUSIDA, Winnie Byanyima, numa conferência de imprensa realizada em Genebra, Suíça.
Segundo a responsável da ONU, os “drásticos cortes nos orçamentos internacionais por parte de muitos doadores” têm “consequências devastadoras”e já afetaram fortemente os países mais pobres.
Manifestando particular preocupação com “o colapso” dos serviços de prevenção do VIH, Winnie Byanyima alertou para a probabilidade de, sem medidas adequadas, haver “3,3 milhões de novos infetados” nos próximos cinco anos.
A resposta global ao VIH foi afetada sobretudo pela “interrupção abrupta do financiamento por parte dos Estados Unidos”, após o regresso à Casa Branca do atual Presidente norte-americano, Donald Trump, no início deste ano, apontou a diretora executiva.
No entanto, ressalvou a representante, a crise foi reforçada pelo facto de outros grandes doadores terem também reduzido significativamente a sua ajuda ao desenvolvimento.
“Os cortes são drásticos e generalizados”, lamentou, acrescentando que desde o início do ano “o complexo ecossistema que apoia os serviços de VIH em dezenas de países de baixo e médio rendimento foi profundamente abalado”.
Os Estados Unidos (EUA) reduziram o financiamento às organizações para ajuda humanitária ao cortar o investimento na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), alegando fraude e mau uso de recursos.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, referiu que mais de 80% dos programas da USAID foram cancelados.
De acordo com um estudo da revista científica The Lancet publicado em julho, a decisão dos EUA deverá resultar em mais de 14 milhões de mortes prematuras até 2030.
De acordo com dados apresentados hoje pela ONU, a propósito da comemoração do Dia Mundial de Luta contra a SIDA, assinalado no dia 01 de dezembro, as taxas de infeção pelo VIH duplicaram desde 2010 entre as mulheres transgénero e os homens que têm sexo com homens, apesar de uma queda global de 36% nos novos casos.
Fora da África subsariana, dois terços dos novos casos de VIH acontecem nestas populações vulneráveis devido à marginalização, discriminação e, em alguns casos, à criminalização que enfrentam, sublinhou a ONUSIDA.
No entanto, a organização celebrou os progressos alcançados até à data, com uma redução de 61% nas novas infeções e uma diminuição de 70% nas mortes desde que os números atingiram os maiores valores, em 1996 e 2004.
Os números ficam, ainda assim, aquém das metas que a ONUSIDA tinha estabelecido para 2025, e o progresso alcançado pode estar a ser comprometido.
“No final de 2024, o mundo estava mais perto do que nunca, em três décadas, de erradicar a SIDA como uma ameaça à saúde pública até 2030, mas os cortes no financiamento e os retrocessos nos direitos humanos estão a colocar este progresso em risco”, alertou a organização.
Para atingir as metas de 2030, a organização precisa de 22 mil milhões de dólares (cerca de 19 mil milhões de euros) anuais, mas no ano passado – ainda antes dos cortes dos EUA - recebeu menos 17% do que esse valor.