O candidato presidencial António Filipe criticou hoje o Governo por recorrer a uma “justificação virtuosa” para fechar a neonatologia do Hospital Dona Estefânia, argumentando que a ministra fala de uma reorganização para disfarçar a perda de capacidades do SNS.
“Sabe que quando os Governos encerram serviços arranjam sempre uma justificação virtuosa. Sempre que se quer encerrar o serviço, nunca se diz que se está a encerrar o serviço, diz-se sempre que se está a reorganizar. Nós já vimos isto, já vimos isto de outras situações e na área da saúde temos visto muita. Quando se encerra um serviço nunca se reconhece que se está a perder capacidades”, criticou.
O candidato a Presidente da República apoiado pelo PCP falava aos jornalistas após uma reunião com o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), em Lisboa, sobre a intenção do Governo de fundir os serviços de neonatologia do Hospital Dona Estefânia e da Maternidade Alfredo da Costa num só polo.
Depois de o jornal Correio da Manhã noticiar que o executivo está a preparar o encerramento do serviço de neonatologia do Hospital Dona Estefânia e a transferência dos profissionais de saúde para a Maternidade Alfredo da Costa, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, reagiu explicando que esse encerramento “não está previsto”, o que está a ser elaborado é “um projeto de organização” da resposta dos dois serviços.
António Filipe considerou que projeto é “muito preocupante”, argumentando que se trata de uma concentração de serviços que afeta a resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que “tem de ser invertida”.
O antigo deputado comunista criticou ainda o que afirmou ser o “descaramento” do Governo de “dizer que os utentes ganham” com este tipo de medidas, sublinhando que “o que se tem verificado é que não é assim” e que “quando encerra um serviço reduz-se a capacidade de responder aos problemas das pessoas”.
“É à custa de reorganizações dessas que temos todos os dias crianças a nascer nas ambulâncias e no meio da estrada, e portanto o que é preciso é, não estas supostas reorganizações, que dificultam a vida de toda a gente, a quem trabalha nessas áreas e também aos utentes, o que é preciso é investir”, defendeu.
Para António Filipe, o investimento e as propostas do Governo para o SNS, bem como a legislação laboral, são matérias sobre as quais os restantes candidatos a Belém se devem pronunciar e que “devem estar no centro dos debates presidenciais” por serem “centrais para a vida dos portugueses”.
Questionado sobre a detenção de duas funcionárias de uma Unidade de Saúde Familiar por suspeita de inscrição fraudulenta de imigrantes no SNS, António Filipe elogiou as autoridades por “estarem em cima” destes assuntos, pedindo que as pessoas envolvidas neste caso sejam responsabilizadas.
“Que há cumplicidades com a ilegalidade da imigração, nós sabemos, e por isso é que existe a PJ, e que a PJ foi reforçada com os efetivos que eram do SESP, e é preciso que funcione. Quando estamos perante a prática de atos ilícitos, seja em que organizações forem, seja em organizações de natureza pública, seja em organizações de natureza privada, isso tem que ser investigado”, declarou.
António Filipe foi também inquirido sobre alguns dos recuos do Governo na negociação do pacote laboral, mas disse que, embora acompanhe a evolução das conversações, são os trabalhadores quem se deve pronunciar sobre a postura do executivo nesta matéria.