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RDCongo: Save de Children alerta que violência sexual quadruplica em seis meses

Lusa
04-09-2025 14:57h

O número de crianças e mulheres atendidas por violência sexual na República Democrática do Congo (RDCongo) quadruplicou no primeiro semestre de 2025, à medida que os combates se intensificaram no leste do país, denunciou hoje a Save the Children.

"O aumento de quatro vezes nos casos de violência sexual apoiados pela Save the Children no leste da RDCongo este ano, em comparação com o ano passado, destaca uma crise humanitária profundamente alarmante, na qual mulheres e raparigas estão a pagar um preço alto", refere Greg Ramm, Diretor Nacional da ONG Save the Children na RDCongo.

Segundo o comunicado da ONG, a Save the Children apoiou 2.702 crianças e mulheres vitimas de violência sexual entre janeiro e julho, contra 612 registadas no mesmo período do ano passado, o que reflete um aumento generalizado dos casos em todo o país.

Por outro lado, lê-se no comunicado, o Ministério da Saúde da RDCongo relatou um aumento de 16% nos casos de violência sexual, que ascenderam a cerca de 73.400 na primeira metade do ano, dos quais quase um terço correspondia a meninas menores de 16 anos.

Perante este cenário, a Save the Children refere que estão a apoiar sobreviventes através de cuidados de saúde mental e psicossociais, encaminhamentos hospitalares e grupos de apoio para ajudar a proteger mulheres jovens e meninas da violência sexual.

"No entanto, a comunidade humanitária enfrenta uma grave escassez de kits PEP para prevenir a infeção pelo HIV após uma potencial exposição" refere Ramm para quem "é necessário financiamento urgente para levar esses suprimentos vitais às sobreviventes que mais precisam deles".

A Save the Children alertou, ainda, que o recrudescimento do conflito no leste do país, juntamente com os ataques de diferentes grupos armados contra civis, provocou um aumento da fome, das deslocações, das vítimas civis e dos casos de violência sexual.

Os colaboradores da ONG, que trabalham em centros de saúde, indicaram que atendem frequentemente sobreviventes de violência sexual que sofrem de gravidez indesejada, complicações médicas, estigmatização e pensamentos suicidas.

No entanto, a organização lamentou que, embora possa prestar assistência médica urgente à maioria das vítimas — incluindo kits de profilaxia pós-exposição contra o VIH —, a escassez de suprimentos devido aos cortes na ajuda e as dificuldades de acesso impedem, em alguns casos, que elas recebam atendimento.

Essa falta de recursos expõe as sobreviventes a infeções sexualmente transmissíveis e outras complicações graves de saúde.

Em junho passado, a Save the Children também alertou que os cortes na ajuda humanitária reduziram drasticamente o apoio disponível para as sobreviventes de violência sexual entre os refugiados que fugiram da RDCongo para o Burundi, apesar de os casos entre menores terem mais do que triplicado.

O conflito no leste da RDCongo intensificou-se no final de janeiro passado, quando o grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23), apoiado por Ruanda — segundo a ONU e vários países ocidentais —, tomou o controlo de Goma, capital da província de Kivu do Norte, e posteriormente de Bukavu, capital da vizinha Kivu do Sul.

Desde 1998, o leste da RDCongo sofre um conflito alimentado pela presença de grupos rebeldes e do exército, apesar da implantação da missão da ONU na RDCongo (Monusco).

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