A Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) acredita que a integração dos cuidados entre os centros de saúde e os hospitais melhorou com o modelo de Unidades Locais de Saúde (ULS), mas “ainda falta muita coisa e coisas básicas”.
“Falta, essencialmente, integração clínica. Em muitos hospitais as equipas ainda não trabalham de forma articulada. Faltam incentivos alinhados, as equipas têm que ter um conjunto de incentivos que partilhem. Faltam coisas estruturais básicas, como regulamentos. A grande parte das ULS não tem sequer um regulamento aprovado. O regulamento que decide qual é a estrutura de gestão, como é que nós nos articulamos”, enumerou à Lusa o presidente da direção da APAH, Xavier Barreto.
Numa entrevista por ocasião dos dois anos de expansão do modelo de ULS a todo o território nacional, Xavier Barreto reafirmou que a convicção de que “as ULS são um instrumento para se fazer a integração de cuidados, mas advertiu: “Não são um fim em si mesmas e muitas pessoas confundem isto”.
“Diria que hoje estamos melhor do que estávamos há dois anos e creio que essa é a perceção generalizada dos trabalhadores da saúde das ULS, quer nos cuidados hospitalares, quer nos cuidados primários. Mas, naturalmente, há um longo caminho para fazer”, analisou o presidente da APAH.
Regressando ao que permanece em falta, Xavier Barreto considerou “incompreensível” que “muitas” das 39 ULS que existem no país não tenham “em dois anos” regulamentos aprovados, uma responsabilidade da tutela a quem cabe também dar aos conselhos de administração a autonomia tão ambicionada.
“Os governos têm falado sempre de autonomia e da importância da autonomia para as administrações poderem tomar decisões importantes também para a integração de cuidados. Tudo isso é fundamental para a gestão do SNS, das suas ULS e, infelizmente, nós estamos a terminar mais um ano e, mais uma vez, os hospitais continuam sem qualquer tipo de autonomia”, afirmou Xavier Barreto.
Desde 01 de janeiro de 2024 que Portugal passou a estar inteiramente coberto por ULS, num total de 39.
A reorganização foi anunciada como tendo por objetivo facilitar o acesso das pessoas e a sua circulação entre os centros de saúde e os hospitais já que estas estruturas respondem agora a uma única gestão. Paralelamente desapareceram as Administrações Regionais de Saúde (ARS).
Nestes quase dois anos, a Direção-Executiva do SNS teve três diretores executivos e o país vai na terceira legislatura.
Recordando que o início das ULS “foi muito difícil” e considerando que o processo de extinção das Administrações Regionais de Saúde “foi complexo e em alguns casos até caótico, pouco planeado”, Xavier Barreto disse que “existem coisas que poderiam estar feitas”.
“Durante muitos meses o governo alimentou a ideia de que não se sabia exatamente se as ULS se iam manter ou se seriam extintas e a reforma revertida. Esta indefinição atrasou o processo”, resume o presidente da APAH.
Neste momento, defendeu Xavier Barreto, esperava-se que os centros de saúde, os hospitais e até mesmo a área social, os municípios, as associações de doentes, as farmácias e o setor privado pudessem articular-se em rede, pudessem partilhar informação, tivessem um único processo clínico e eletrónico.
“Mas ainda não têm, como infelizmente se viu por casos recentes em que essa troca de informação, essa partilha de informação falhou. Em causa está definir um percurso para os doentes. Estamos muito longe disso. Muito longe”, referiu.
Para a APAH “falta um impulso maior para criar equipas multidisciplinares que discutam qual é o melhor percurso para os doentes, como é que se consensualiza o diagnóstico, o tratamento e acompanhamento dos doentes”.
“As ULS favorecem isto porque estão a gerir de forma integrada centros de saúde e hospitais. Favorecem, mas não quer dizer que o garantam. Falta muita coisa, mas apesar de tudo, acho que estamos melhor hoje do que estávamos há dois anos”, concluiu.