A cantora portuguesa Marisa Liz está a patrocinar uma campanha para angariar um milhão de euros para garantir água potável e saneamento a cerca de 500 mil crianças na Guiné-Bissau, disse hoje à Lusa fonte da Unicef.
Aminta Medina, especialista do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em WASH (programas dedicados à àgua, saneamento e higiene) e Alterações Climáticas na Guiné-Bissau, explicou à Lusa que a cantora portuguesa integra a campanha na qualidade de embaixadora daquela agência das Nações Unidas.
“O objetivo é investir em projetos WASH, levar água potável às crianças que mais precisam e melhorar o acesso da população a serviços básicos essenciais, especialmente em comunidades rurais e vulneráveis”, declarou Medina.
A responsável guineense da Unicef explicou que são comunidades também afetadas pelas alterações climáticas, nomeadamente seca, calor extremos e ainda por subidas de água do mar no norte, leste, sul e nas ilhas.
“Estamos a falar de cerca de 500 mil crianças, cerca de 55% de crianças da Guiné-Bissau que estão nas áreas rurais ou periurbanas, que são áreas altamente suscetíveis de inundações, subida do nível do mar, calor e seca extremas”, sublinhou Aminta Medina.
O dinheiro da campanha, da qual a Unicef “espera muito da boa vontade dos portugueses e comunidades guineenses na diáspora” servirá não só para levar água às cerca de 300 comunidades como ações de saneamento e higiene, adiantou Medina.
A responsável notou ser fundamental ensinar as comunidades a manusear a água e que cuidados tomar para evitar a contaminação a partir de dejetos por defeção a céu aberto.
Ainda com o dinheiro a ser angariado, serão construídas casas de banho e desenvolvidas ações que possam levar à mudança de comportamento em relação à higiene e saneamento, adiantou Aminta Medina.
A responsável destacou que será uma ação contínua no tempo.
Há mais de um ano que a cantora portuguesa Marisa Liz “empresta a sua voz e imagem” a uma campanha da Unicef que visa levar água para várias zonas do mundo afetadas pela falta do líquido e que tem como consequência, entre outras, as doenças diarreicas.
Dados do relatório anual daquela agência das Nações Unidas relativo ao ano 2024 apontam que na Guiné-Bissau 40% da população não tem acesso a água potável, 67% da vive abaixo da linha da pobreza, um terço em situação de pobreza extrema e 30% das crianças sofrem de desnutrição crónica.
Os mesmos dados indicam que a taxa de mortalidade materna continua a ser uma das mais elevadas do mundo, cerca de 725 por 100.000 nascimentos, e que mais de metade das crianças que vivem nestas comunidades enfrenta simultaneamente privações alimentares, de saúde, saneamento, educação.
Em 2024, os fundos recolhidos pela Unicef permitiram que 201 aldeias na Guiné-Bissau fossem declaradas livres de defecação a céu aberto, promovendo práticas seguras de higiene e prevenção de doenças.
Foram construídas escolas equipadas com painéis solares, furos de água e estações de lavagem de mãos e instaladas fontes comunitárias que já fornecem água potável a mais de 5.000 pessoas.