As autoridades de Moçambique estimam que cerca de 2,3 milhões de moçambicanos podem enfrentar insegurança alimentar aguda até finais deste ano, devido à seca associada ao fenómeno climático El Ninõ.
"Em Moçambique (...) estima-se que cerca de 2,3 milhões de pessoas possam enfrentar insegurança alimentar aguda até o final da época de 2024/2025", disse o diretor regional sul do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), Cândido Mapute, citado hoje pela comunicação social local.
Segundo o responsável, o El Niño teve um impacto significativo na agricultura e "consequentemente na insegurança alimentar", principalmente na região centro de Moçambique.
Mapute explicou que, para travar a "ameaça de fome", principalmente na província de Inhambane, sul do país, existem programas de ações antecipadas para mitigar os efeitos da estiagem, causada pela seca, com intervenções que se focam nas áreas "críticas" de água, saneamento e segurança alimentar.
Entre outras ações para mitigar a insegurança alimentar aguda no país, a mesma fonte avançou que as autoridades moçambicanas estão a reabilitar fontes de água e a distribuir pelas comunidades sementes tolerantes à água.
O El Niño é uma alteração da dinâmica atmosférica causada por um aumento da temperatura oceânica. Este fenómeno meteorológico provocou este ano chuvas torrenciais na África oriental, com centenas de mortos em vários países, como Quénia, Burundi, Tanzânia, Somália e Etiópia.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas globais, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril, mas também períodos prolongados de seca severa.
Em fevereiro, o relatório da Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar - IPC estimou que cerca de 3,3 milhões de pessoas enfrentariam insegurança alimentar devido aos impactos dos choques climáticos e da insurgência armada em Moçambique.
No documento, é referido que "o número de pessoas em situação de insegurança alimentar aguda e que necessitam de assistência urgente (...) poderá passar de 2,79 milhões para cerca de 3,28 milhões de pessoas, de outubro [de 2024] a março de 2025".
As Nações Unidas também estimaram, na altura, que a insegurança alimentar agravada pelo El Niño atingiu “níveis sem precedentes” em Moçambique, ameaçando quase cinco milhões de pessoas, num cenário de seca e de falta de financiamento internacional para apoio no terreno.
De acordo com um relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), as conclusões resultam da análise à atividade agrícola e de insegurança alimentar, indicando que “atingiu níveis sem precedentes em Moçambique”, com um total de 4.890.232 pessoas ameaçadas por essa insegurança alimentar até ao final da campanha, encerrada em março.
Aquela agência das Nações Unidas lançou em 2024 um apelo para 222 milhões de dólares (213 milhões de euros) de apoio internacional para combater os efeitos da seca em Moçambique, mas reconhece que enfrenta “um défice de financiamento significativo”, tendo angariado apenas 28,7 milhões de dólares (27,5 milhões de euros), equivalente a 13% das necessidades identificadas.