A nova representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Cabo Verde, Ann Lindstrand, considerou hoje uma prioridade combater novos casos que ameaçam a certificação do arquipélago como país livre de malária.
“Essa é a prioridade agora, é o mais importante. A chuva já está a chegar, sabemos que os casos de dengue estão a diminuir, mas o paludismo [malária] aqui na Praia, na Boa Vista, noutros lugares, está a aumentar e o país pode perder a certificação de estar livre da doença no próximo ano, se não conseguirmos agora fazer disto uma emergência”, referiu Ann Lindstrand, em entrevista à Lusa.
O Governo declarou situação de contingência em todo país, há uma semana, face ao risco de multiplicação de mosquitos (transmissores de doenças como malária e dengue) com a chegada da época das chuvas.
O risco de reversão do certificado de país livre de malária existe, caso se verifiquem, pelo menos, três casos de transmissão local (não importados) “no início do próximo ano”, detalhou a representante residente.
O Ministério da Saúde já tem um grupo de trabalho “com todos os parceiros, a preparar um plano de ação” para travar as infeções, que, segundo os dados oficiais da última semana, chegavam "a 25, este ano", alguns deles de transmissão local, acrescentou.
“Agora está a chover e é natural que haja mais casos, se não nos organizarmos bem para lutar contra os mosquitos”, disse Ann Lindstrand.
Questionada sobre se ainda há tempo para Cabo Verde manter o certificado – atribuído pela OMS em janeiro de 2024 –, a nova representante da organização no país disse que sim, que é possível.
“Sim, temos seis meses para o fazer”, acrescentou.
A OMS aguarda, para breve, a chegada ao arquipélago de um entomologista, cientista especializado no estudo de insetos, e de uma epidemiologista, para se juntaram ao grupo de trabalho.
Ações de limpeza e pulverizações fazem parte do roteiro habitual de combate aos mosquitos portadores do parasita responsável pela doença e que é propagado através de picadas.
Os mosquitos encontram condições ideais para se propagarem a partir de zonas com lixo ou águas paradas, especialmente durante épocas quentes e húmidas, como a estação das chuvas que agora começa e que se prolonga até final de outubro, em Cabo Verde.
Ann Lindstrand iniciou funções como representante da OMS em Cabo Verde há um mês, com o objetivo de levar a cabo o plano de ação 2024-28, em parceria com o Ministério da Saúde cabo-verdiano.
“O nosso maior objetivo é reforçar a governança do sistema de saúde, ajudar na prevenção e preparação para emergências, na eliminação de algumas doenças não transmissíveis e na digitalização” dos serviços do setor, referiu.
Hipertensão, diabetes, hábitos de nutrição e de consumo de álcool, estão entre as maiores preocupações no país, por serem fatores de risco associados às principais causas de morte.
Os desafios incluem ainda a necessidade de retenção e distribuição de mão-de-obra qualificada, a par das acessibilidades a todas as ilhas.
Seja com for, Ann Lindstrand destacou o progresso já alcançado ao longo de 50 anos de independência: os indicadores de saúde “são extraordinários”.
“A cobertura de vacinação é quase a melhor de África e estamos prestes a eliminar o sarampo, a rubéola e outras doenças graças a esse programa de vacinação”, que acompanha a melhoria dos indicadores de saúde materno-infantil, entre outros.
“É impressionante ver a evolução nestes 50 anos de independência, ver como é possível, com muito pouco financiamento, os indicadores estarem quase ao melhor nível de África”, concluiu.