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Mais de 9 mil pessoas exigem direitos e apoios para cuidadores informais em petição

LUSA
25-06-2025 13:47h

Todos os cuidadores informais e ex-cuidadores com direito a subsídio, licenças reconhecidas e remuneradas ou descanso do cuidador gratuito são algumas das exigências da petição com mais de 9.500 assinaturas recolhidas pela Associação Nacional de Cuidadores Informais.

As mais de 9.500 assinaturas foram entregues hoje, no Parlamento, à vice-presidente da Assembleia da República Teresa Morais, e, no final, em declarações à agência Lusa, a presidente da Associação Nacional de Cuidadores Informais (ANCI) disse que a deputada social-democrata reconheceu que está em causa um problema social, que é necessário implementar o Estatuto do Cuidador Informal e os direitos contemplados, ao mesmo tempo que seria útil os partidos apresentarem iniciativas legislativas sobre o tema.

Liliana Gonçalves adiantou que esta petição surge com o objetivo de reconhecer todos os cuidadores informais e ex-cuidadores, salientando que, atualmente, dos cerca de 16.500 cuidadores com estatuto reconhecido, “pouco mais de 6 mil têm acesso ao subsídio”.

“Ficam excluídas as pessoas reformadas, as que trabalham a tempo parcial e que têm outro trabalho a tempo inteiro e também os cuidadores informais principais, se tiverem subsídio de desemprego, não podem aceder ao subsídio de apoio”, exemplificou a responsável.

“Nós entendemos que, independentemente da situação laboral do cuidador, todos deveriam ter acesso ao subsídio”, acrescentou.

A ANCI defende também a existência de licenças para cuidadores reconhecidas na lei, de curta ou longa duração, e que sejam remuneradas, uma vez que, atualmente, “o cuidador não tem direito a pedir licença para cuidar” e tem perda financeira.

“Pedimos que sejam reconhecidos a todos os cuidadores informais o direito ao descanso do cuidador, gratuito e que haja serviços complementares do serviço de apoio domiciliar, nomeadamente alívio de 24 horas”, defendeu Liliana Gonçalves.

Segundo a responsável, esta solução “é fulcral” para evitar que os cuidadores se vejam obrigados a por a pessoa cuidada numa rede de cuidados integrados durante 30 dias.

Caso isso seja necessário, a ANCI entende que não deve ser o cuidador a pagar, o que acontece atualmente, apesar de uma portaria de 2023 “calcular uma diferenciação positiva para os cuidadores informais com o estatuto”.

“Estamos a falar de pessoas que cuidam 24 sobre 24 e não têm dias de férias, não têm direito ao descanso. E mesmo as que estão a trabalhar para a entidade laboral, ao sábado e ao domingo, ou depois do horário laboral, continuam a ser cuidadores”, alertou.

Outra “alteração de fundo” que a associação entende ser necessária é a existência de uma carreira contributiva, assegurada pelo Estado, uma vez que a realidade atual dita que os cuidadores “não tenham qualquer desconto para a Segurança Social”.

Consequentemente, “depois não têm reforma” e correm o risco de “cair numa situação de vulnerabilidade social”.

É o caso de Liana Sousa, 58 anos, uma das cuidadoras que integrou o grupo que entregou a petição, e que é mãe de um jovem de 34 anos com paralisia cerebral, de quem cuida a tempo inteiro e por causa de quem deixou de trabalhar.

Não tem direito a reforma e recebe atualmente cerca de 300 euros de subsídio como cuidadora.

“Para o que é que serve? Para irmos duas vezes ao supermercado ou três? Ou então pagamos a água, a luz e as comunicações e mais não sei o quê e pronto, e acabou”, lamentou.

Apontou que enquanto cuidadora a tempo inteiro está fazer um trabalho a tempo inteiro e defendeu que os cuidadores sejam pagos tal como as instituições do setor social para receberem pessoas com deficiência.

A presidente da ANCI lembrou que os cuidadores informais estão a fazer “um trabalho gratuito que assegura cuidados que o Estado não consegue prestar” e, apesar de reconhecer que o atual ciclo político é difícil, apelou a todos os partidos para reconhecerem o papel do cuidador informal na sociedade.

De acordo com a responsável, as estimativas apontam para que entre 8% a 10% da população portuguesa seja cuidadora, 200 mil dos quais a tempo inteiro.

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