O Hospital Central de Nampula (HCN), norte de Moçambique, vai realizar pela primeira vez cirurgias para tratar cancro de pele, apoiado por uma ONG espanhola e prevendo chegar a mais de 30 pessoas com albinismo, foi hoje anunciado.
“É uma campanha direcionada a pessoas que têm problemas de albinismo. Vamos fazer o rastreio e tratamento das lesões, inclusive cirurgia de cancro de pele”, anunciou hoje, em conferência de imprensa, em Nampula, Marcelo Banquimane, médico dermatologista do HCN, explicando que a campanha contará com a presença de duas especialistas espanholas, em colaboração com os médicos locais.
Pelo menos 36 pessoas com necessidade de cirurgia já foram sinalizadas para intervenção cirúrgica no HCN, sendo que a campanha vai decorrer de 02 a 07 de junho, promovida pela Organização Não-Governamental (ONG) espanhola Africa Directo, que há mais de 30 anos atua em países africanos.
Segundo Banquimane, o objetivo é essencialmente identificar e operar pessoas com albinismo que apresentem lesões cancerosas na pele, resultantes da exposição solar prolongada, uma das principais causas de morte precoce.
Numa primeira fase serão intervencionados pacientes provenientes dos distritos de Nampula, Moma, Muecate, Nacarôa, Nacala-porto e Larde, bem como distribuído cremes protetores.
“Esta é uma campanha exploratória composta por uma missão de médicos que tem feito essas atividades, principalmente na zona sul [de Moçambique] já há alguns anos (...). Sabendo que tínhamos uma grande parte de pessoas vivendo com albinismo em Nampula, solicitamos esta missão para que nos apoiassem no tratamento”, explicou ainda o médico moçambicano.
O coordenador da Associação Amor à Vida, Válter Mussa, que apoia o processo no terreno, explicou à Lusa que, em Nampula, o distrito de Moma apresenta o maior número de pessoas com problemas de pigmentação de pele, com mais de 40 casos, num levantamento ainda por fechar.
Em toda a província, das 120 pessoas mapeadas, 36 necessitam de intervenção cirúrgica, adiantou.
“O restante vai-se fazer um acompanhamento, porque tem a parte da cirurgia e das consultas. Ou seja, vamos fazer um seguimento para ver o desenvolvimento de cada caso (...), alguns desses poderão beneficiar de uma próxima campanha”, apontou Mussa.
O responsável sublinhou igualmente tratar-se de uma intervenção que vai “impactar significativamente na vida dessas pessoas”, que sofrem também com problemas de mitos relacionados com a pele e de discriminação.
“Que nunca passaram por um procedimento de intervenção. Ou seja, para nós é um salto gigante (...). Por isso, queremos adiantar que é uma campanha piloto e vai depender dos resultados que vamos obter para prosseguir com próximas campanhas para atender maior número de pessoas de forma permanente”, concluiu.