A fundadora da associação “Afropsis Saúde Mental”, que ajuda afro-descendentes que se sentem discriminados em Portugal, denunciou que há psicólogos que recusam ouvi-los sobre estes problemas, o que os leva a procurar apoio em profissionais da mesma origem.
“Infelizmente, ainda há muitos colegas meus, psicólogos brancos, que negam o espaço para os pacientes falarem sobre as questões raciais”, referiu à Lusa a psicóloga Miriam Santos, a propósito do Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, que hoje se assinala.
Perante esta resistência que os afro-descedentes encontravam, Miriam Santos juntamente com outro especialista da mesma origem criou em 2021 a “Afropsis Saúde Mental”, uma plataforma composta por psicólogos desta comunidade.
Explicando os motivos que levaram à criação desta associação, Miriam Santos indicou que as pessoas se queixavam da dificuldade em “encontrar psicólogos negros” com quem pudessem falar abertamente sobre as questões da discriminação.
A psicóloga sublinhou que esta plataforma não trata apenas de problemas raciais, “mas há a consciência de que o racismo existe” e do impacto prejudicial que tem “na saúde mental da população negra e não só”.
Segundo a especialista, existem estudos que mostram que as principais doenças que atingem a comunidade negra são a hipertensão arterial e o colesterol alto, que aparecem devido ao stress vivido todos os dias e que passam para as gerações seguintes.
Miriam Santos disse que existem vários graus de discriminação e exclusão, mas de acordo com os seus pacientes, a situação mais frequente é a necessidade dos afro-descendentes modelarem com muito cuidado a sua expressão verbal no trabalho para não serem reconhecidos como agressivos.
“Basta ser assertiva para ser vista por algumas pessoas brancas como uma agressiva”, disse a psicóloga.
A “Afropsis Saúde Mental” promove consultas de psicologia e ações de sensibilização, na Quinta da Princesa, no Seixal, distrito de Setúbal, focadas em promover a saúde mental na comunidade afro-descendente em Portugal e nos direitos das mulheres.
Inicialmente, a organização era constituída por cinco psicólogos e hoje tem 38 membros, número que tem tendência para crescer, segundo Miriam Santos.
"Sou contactada por futuros psicólogos e por profissionais que não conheciam o grupo, que querem juntar-se a nós", afirmou.
A organização, que é constituída por psicoterapeutas, psiquiatras e psicólogos clínicos que exercem na área da saúde, educação e trabalho, atua também nos setores do serviço social, terapia da fala e ações comunitárias.