A consultora Oxford Economics considera que o novo Presidente do Estados Unidos está a usar a ajuda humanitária como arma, ao anunciar uma suspensão da assistência, que tem um impacto particularmente grande em África.
"O Presidente (Donald) Trump não está a implementar estes cortes devido a preocupações com a sustentabilidade orçamental. A revisão da ajuda dos EUA visa transformar o apoio financeiro numa arma", consideraram hoje, após estudar o tema, os analistas desta consultora britânica.
O departamento africano desta consultora afirma, depois de analisar o anúncio de congelamento de financiamento às organizações não-governamentais (ONG) que fornecem serviços de apoio à imigração, que a incerteza sobre quais os programas estão isentos do congelamento "coloca vidas em risco", nomeadamente nos países africanos, onde a ajuda externa é fundamental para equilibrar os orçamentos.
Em Moçambique, por exemplo, os Estados Unidos contribuem anualmente com cerca de 100 milhões de dólares (96,2 milhões de euros), apontam os analistas, vincando que "mesmo na nação mais industrializada do continente, a África do Sul, o financiamento na forma do Plano de Emergência da presidência norte-americana para o Alívio da SIDA (PEPFAR) é fundamental na garantia da terapia retroviral".
Entre os exemplos apontados pela Oxford Economics está também a Etiópia, que recebe mais de 1,6 mil milhões de dólares (1,5 mil milhões de euros) em ajuda externa, e a República Democrática do Congo, com 1,2 mil milhões de dólares (cerca de 1,1 mil milhões de euros), em 2023.
O Governo dos Estados Unidos congelou os fundos de ajuda federal às organizações não-governamentais (ONG) que fornecem serviços de apoio à imigração, segundo um documento do Departamento de Segurança Interna (DHS) citado pela agência de notícias espanhola EFE na quinta-feira.
No memorando, assinado pela secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, encarregada desta pasta pelo novo Presidente norte-americano, o republicano Donald Trump, o DHS expressa “preocupações” de que as verbas do Estado estejam a ser usadas para “atividades ilegais”, como “promover ou induzir a migração ilegal”.
A diretiva dá instruções aos funcionários do DHS para fazerem uma avaliação de todas as ONG “de alguma forma relacionadas” com a questão da imigração e para redigirem um relatório, recorrendo aos instrumentos judiciais disponíveis, para investigar se estão a utilizar o dinheiro para “fins ilegais”.
Numa entrevista na quarta-feira concedida ao canal televisivo conservador Fox News, Kristi Noem afirmou que o Governo federal gastou “centenas de milhões de dólares” em financiamentos a ONG que “facilitam a invasão dos Estados Unidos”.
“Não vamos gastar nem mais um cêntimo para ajudar à destruição deste país”, sublinhou a secretária norte-americana.
O Governo Trump equiparou a imigração a uma “invasão”, e os imigrantes a “invasores”, e instruiu as forças militares do país a deslocarem-se para a fronteira para a repelir.
A DHS atribui anualmente centenas de milhões de dólares em subsídios a organizações sem fins lucrativos, incluindo organizações religiosas ou especializadas em comunidades marginalizadas.
Ao mesmo tempo, em estados com governos republicanos, como o Texas, as autoridades locais processaram ONG que apoiam migrantes em cidades fronteiriças dos Estados Unidos, como a Catholic Charities.
Várias destas organizações recebem dinheiro da FEMA, através do seu programa de Abrigo e Serviços, para responder às necessidades das pessoas assim que estas são libertadas da custódia da Polícia Fronteiriça.
No ano fiscal de 2024, esse programa recebeu 650 milhões de dólares (623 milhões de euros), de acordo com dados da FEMA. Em comparação, o orçamento anual total do DHS foi de 91,5 mil milhões de dólares (87,7 mil milhões de euros).