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Comissão de utentes repudia possibilidade de hospital do Barreiro perder urgência de obstetrícia

Lusa
31-01-2025 15:58h

A comissão de utentes do Barreiro repudiou hoje a possibilidade de a urgência de obstetrícia encerrar no hospital da cidade, considerando tratar-se de uma medida “lamentável”.

O Governo vai estudar a proposta de um grupo de peritos para a criação de um centro maternoinfantil na Península de Setúbal e de integração do Hospital do Barreiro e do Hospital Garcia de Orta (Almada), num regime de urgência metropolitana.

Em declarações à agência Lusa, Antonieta Bodziony, da Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Barreiro, criticou a intenção do executivo, principalmente quando foi feito um investimento nas instalações da unidade.

“Já quando há dois anos foi colocada a questão da rotatividade entre as três maternidades [Almada, Barreiro e Setúbal], discordámos da medida”, lembrou.

Desta forma, acrescentou, o hospital do Barreiro está a ser transformado num centro de saúde para colmatar o que falta nas Unidades de Saúde Familiar do concelho no horário das 09:00 às 17:00.

“Isto é um retrocesso. Lembro que ainda hoje saiu uma notícia a indicar que a mortalidade infantil na Península de Setúbal é superior a média nacional. Isto é grave, alguma coisa se está a passar”, frisou.

Por todas estas razões, adiantou, a Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Barreiro vai realizar, em 22 de fevereiro, uma marcha “pelo direito à saúde”, desde a estação da Baixa da Banheira ao hospital do Barreiro.

“Os problemas agudizam-se a cada dia que passa, todos os dias somos confrontados com novos projetos-piloto que, não só não respondem aos problemas, como os agravam. Os utentes têm direito à saúde, cuidados de saúde primários e de proximidade, têm direito às consultas de urgência numa situação aguda e/ou de acompanhamento, sem ter de recorrer a telefones para poder entrar num hospital ou ter de ser atendido por videoconferência”, refere a comissão na convocatória do protesto.

Segundo a comissão de utentes, os problemas do Serviço Nacional de Saúde estão identificados: falta de médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde.

A ministra da Saúde explicou hoje, em Elvas, que a proposta da Comissão Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, coordenada por Caldas Afonso e entregue há dois dias ao Governo, para a criação de um centro maternoinfantil na Península de Setúbal, já foi testada com sucesso no norte.

“É uma solução que já foi testada no norte com bons resultados”, afirmou a titular da pasta da Saúde, Ana Paula Martins, em declarações aos jornalistas à margem de uma visita ao Hospital de Santa Luzia, em Elvas, distrito de Portalegre.

A proposta, explicou a governante, refere-se, sobretudo, à integração do hospital do Barreiro e do Hospital Garcia de Orta [Almada], num regime de urgência metropolitana”.

Já o hospital de Setúbal, referiu Ana Paula Martins, “fazendo parte deste conceito de centro maternoinfantil, continua a ser um polo”, mantendo-se para dar resposta à sua área e “também para dar um apoio grande ao litoral alentejano”.

A proposta surge após a tutela “reconhecer que, no último um ano e meio ou dois anos, a Península de Setúbal tem tido muitas dificuldades em conseguir dar resposta à área obstétrica e isso é muito penalizador para as mulheres e famílias”, realçou.

Ana Paula Martins salientou, contudo, que ainda que o centro maternoinfantil seja criado, o modelo de pré-triagem telefónica “terá que se manter” para evitar que existam “casos na urgência que não façam sentido lá estar”.

De qualquer forma, “o Ministério da Saúde ainda não tomou uma decisão”, notou a responsável, assegurando que o Governo só avançará com alterações após falar com os autarcas das áreas abrangidas, conselhos de administração e equipas hospitalares.

“Não podemos legislar um modelo de urgência metropolitana sem falar com aqueles que são o suporte dessa urgência metropolitana”, acrescentou.

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