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Covid-19: Portugueses em Londres consideram "exageradas" medidas em Portugal

LUSA
16-03-2020 14:07h

Alguns portugueses residentes no Reino Unido consideram “exagerado" o receio relacionado com a pandemia do novo coronavírus, mas nas mercearias do “mercado da saudade” é evidente a corrida a certos produtos, como massas e enlatados.

“Já lidámos com problemas semelhantes. Se tiver de ser, tem de ser mesmo", afirmou Jorge Barros à agência Lusa, enquanto bebe um café e come uma sanduíche ao balcão. 

Terminado o turno de entrega de produtos alimentares, foi tomar o pequeno-almoço ao café O Barros, propriedade do filho, para este ir reabastecer-se, embora, garanta, papel higiénico ainda não é um problema. 

A lavagem das mãos passou a ser mais demorada e minuciosa e, no início do surto, foram disponibilizados frascos de desinfetante para as mãos, mas hoje não estão à vista. 

“Ainda não teve impacto no negócio, continuamos a ter muita gente e ao fim de semana temos de recusar porque não temos lugar para todos”, garantiu Barros. 

No seu emprego de motorista, porém, já notou a diferença: as encomendas de cafés e restaurantes são menores, o trânsito nas ruas de Londres quase inexistente e a empresa começou a obrigar os colegas a gozar férias mais cedo. 

Enquanto olha para as notícias de um canal português na televisão, Cândido Pinto vai bebendo o café, mas sem grande alarme, crente que “é apenas uma gripe que vai passar”. 

De baixa desde agosto após uma operação ao coração, garante que os cuidados que precisa de ter devido ao risco de complicações já tinha antes. 

Inácio Furtado pensa que "cada um deve tomar as suas precauções” e, perante a falta de medidas de distanciamento social no Reino Unido, como o encerramento de escolas ou o cancelamento de eventos de grande dimensão, considera que o Governo britânico "devia tomar previdências antes que seja tarde demais”. 

Mesmo assim, não está alarmado com o risco para o emprego como carpinteiro numa empresa de construção e está preparado para ficar em casa. 

“Se acontecer alguma coisa, é esperar até que se resolva”, disse. 

O Governo britânico ativou na quinta-feira a segunda fase do plano de combate à Covid-19, destinada a controlar a propagação do novo coronavírus, exortando as pessoas com sintomas para se auto-isolarem durante uma semana. 

Proibiu visitas de estudo ao estrangeiro e aconselha as pessoas idosas, mais vulneráveis à doença, a não viajarem em cruzeiros, mas não ordenou a proibição de grandes eventos nem o encerramento de escolas.

Já o Governo português declarou na sexta-feira o estado de alerta no país, colocando os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão, e suspendeu as atividades letivas presenciais em todas as escolas a partir de hoje, impondo restrições em estabelecimentos comerciais e transportes, entre outras. 

Também Ricardo Azevedo, a aproveitar o sol e o tempo ameno para comer o pequeno-almoço na esplanada, considera que há algum “exagero" na forma como as autoridades portuguesas estão a reagir e entende que “o Governo britânico está a ser sensato em evitar o pânico”. 

Funcionário numa loja de roupa, está determinado em prosseguir com a vida normal, continuando também a frequentar a universidade, em funcionamento, apesar de alguns estabelecimentos no país terem voluntariamente deixado de oferecer aulas presenciais. 

Porém, também vê como “ridículo” o modo como o primeiro-ministro, Boris Johnson, tentou incentivar as pessoas a lavarem as mãos durante 20 segundos, sugerindo que cantassem os parabéns. 

“É estar a brincar com uma coisa séria. Tenho contacto com milhares de pessoas todos os dias e toco em dinheiro, mas a loja disponibilizou desinfetante para as mãos e agora temos de limpar superfícies”, revelou. 

Natalina e Pedro Ribeiro trabalham em limpezas domésticas e já usavam produtos fortes por uma questão de higiene, mas admitem que a oferta nos supermercados está mais limitada e o impacto sente-se noutras áreas, como a suspensão de consultas presenciais no centro de saúde e de tratamentos não urgentes no hospital. 

“É um exagero, isto é uma gripe como as outras”, argumenta Natalina Ribeiro, que lamenta não conseguir comprar produtos como massas secas em quantidade como sempre fez. 

Adelino Mendes, proprietário da mercearia A Serrana, adiantou à Lusa que teve de limitar no fim de semana o número de produtos que cada cliente podia levar, nomeadamente massas, enlatados e leite, cujas prateleiras hoje estavam por encher. 

“Havia pessoas a levar 48 latas de feijão enlatado e às 10 caixas de leite. Agora não estou a por nas prateleiras, não é porque não tenha em armazém, mas porque é preciso impor limites”, explicou. 

Até domingo, quando foi feito o último balanço, o Reino Unido tinha registado 1.372 casos positivos de Covid-19 entre 40.279 pessoas testadas, das quais 35 morreram. 

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou hoje o número de casos de infeção confirmados para 331, mais 86 do que os contabilizados no domingo, mas até agora sem qualquer morte.

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