Um projeto com cinco entidades, incluindo o Instituto Politécnico de Leiria, desenvolveu formação especializada destinada a profissionais das áreas social e da saúde, para apoiar mulheres migrantes, expostas a uma “dupla vulnerabilidade”, disse uma investigadora.
O projeto, denominado “360 REWIN - Intervenções de Mulheres Imigrantes Resilientes para a Inclusão”, começou em fevereiro de 2022 e termina este mês, e envolve também a Universidade de Burgos, Colégio Oficial de Psicólogos e Bjäland Tecnologies (Espanha) e Euroform RFS (Itália).
À agência Lusa, a investigadora do Centro de Inovação em Tecnologias e Cuidados de Saúde do Politécnico Maria dos Anjos Dixe explicou que o projeto nasceu do aumento do número de migrantes e o crescimento da consciencialização das dificuldades por que passam as mulheres migrantes, mas também a “impreparação de entidades para lidar com este fenómeno e, em particular, de alguns grupos profissionais que contactam frequentemente com migrantes, mas a quem não foram dadas competências específicas para lidar com populações diversas”.
A docente da Escola Superior de Saúde de Leiria afirmou que “a imigração para Portugal tem crescido significativamente”, sendo que a de mulheres registou “um crescimento significativo em termos absolutos”.
“Em 2022, as mulheres representavam 51% dos residentes estrangeiros, embora nos últimos anos se tenha registado um declínio na sua proporção relativa devido a fluxos migratórios da Ásia mais dominados pelos homens”, declarou, assinalando que, “entre as comunidades estabelecidas, as mulheres são predominantes, compreendendo 53,8% dos brasileiros, 55,5% dos angolanos e 54,3% dos ucranianos”.
Segundo Maria dos Anjos Dixe, “as mulheres migrantes estão expostas a uma dupla vulnerabilidade, como mulheres e como migrantes”, o que “gera a necessidade de uma atenção especial e personalizada por parte dos profissionais nos campos social, da saúde e da psicologia”, para compreender as suas necessidades.
No caso das mulheres migrantes em Portugal, “enfrentam desafios únicos que se cruzam com questões mais amplas que afetam os imigrantes”, como “o emprego precário, os baixos salários, a instabilidade habitacional e as barreiras linguísticas”, exemplificou.
“Estes desafios agravam-se frequentemente, criando múltiplas exclusões de serviços essenciais como a educação, os cuidados de saúde e a habitação”, sustentou Maria dos Anjos Dixe.
Por outro lado, “as mulheres são particularmente vulneráveis à violência do parceiro íntimo, o que agrava ainda mais a sua marginalização”.
“Apesar da existência de algumas particularidades no número, origem dos migrantes e apoios a estas mulheres, esta problemática é idêntica nos três países”, referiu.
Para a investigadora, “ao nível do ensino superior, e particularmente na formação de profissionais da área da saúde, social e do comportamento, não tem havido grande investimento em programas de formação eficazes para que estes profissionais desenvolvam competências para apoiar estas mulheres, tirando partido da utilização de ferramentas digitais”.
Nesse sentido, o projeto teve como principal objetivo promover e desenvolver programas de formação especializada para estudantes de psicologia, serviço social e de saúde.
Além de planos de formação que utilizam plataformas de aprendizagem ‘online’, para a sua disseminação internacional, foram criados, por exemplo, uma plataforma de aprendizagem virtual e um manual de boas práticas, adiantou.
Questionada sobre se a formação de profissionais destas áreas ou mesmo autoridades policiais e autárquicas pode contribuir para ajudar as mulheres migrantes, a docente salientou que “não se pode partir da ideia de que os diversos profissionais detêm, por natureza, competências de trabalho com a diversidade”.
“Dado que estas competências também não são suficientemente desenvolvidas nas escolas, ou nas instituições de ensino superior, é importante oferecer formação específica sobre esta temática aos profissionais”, reiterou, acrescentando que “o trabalho com a diversidade implica o desenvolvimento de conhecimentos, aptidões e atitudes específicas”.